Quem afirmou isso foi o presidente da Gold Fields, Nick Holland, ressaltando que a recuperação do preço do ouro, que atingiu US$ 1.300/onça em 2016, surpreendeu as próprias mineradoras, muitas das quais nem tinham terminado a lição de casa em redução de custos — e agora podem ter relaxado esse esforço.
Ele aponta que existem outros agravantes: o corte dramático dos investimentos em exploração geológica e a lavra preferencial das zonas de maior teor de ouro das minas, deixando as de baixo teor para depois — o que significa maior custo de produção no futuro. Tomando como exemplo a sua empresa e outras dez congêneres, que respondem por um terço da produção global de ouro, Holland disse que as mineradoras se beneficiaram da depreciação das moedas locais frente ao dólar, que se somou à queda do petróleo, “ampliando” os efeitos nos programas internos de se reduzir custos e dívidas.
Gold Fields estima que num grupo de 11 mineradoras globais, 60% da produção provem da Austrália, Canadá e África do Sul, países que tiveram desvalorização cambial de 26%, 21% e 47% respectivamente, entre 2012 e final de 2015.
Os cortes maiores foram nos investimentos em exploração, que já vinham caindo no período de 1995 a 2012. “Já eram insuficientes e diminuíram mais ainda”, declarou Holland, destacando que estes recursos caíram da média de US$ 78/onça em 2012, para US$ 36/onça em 2015. As reservas geológicas para produção economicamente viável no futuro declinaram de 24 para 17 anos equivalentes nos quatro anos passados.
A acirrada concorrência nas aquisições mostra que os projetos brownfield e o crescimento orgânico de algumas mineradoras major, já não são suficientes para repor o declínio futuro na produção de ouro. No total, US$ 2,9 bilhões foram gastos nestas transações em 2016, comparado a US$ 2,1 bilhões no ano anterior.
As 11 mineradoras reduziram os custos “all in” em 36% nos quatro anos passados, e os custos operacionais “all in”— excluindo os investimentos em novos projetos — em 20%, ajustando-se aos preços baixos do ouro. Os gastos para manter as operações estáveis, através de atualização tecnológica ou melhorias operacionais,
caíram de 46% em 2012 para 26% em 2015 — o que significa que investimentos essenciais estão sendo postergados.
Holland cita uma pesquisa independente mostrando que 52% da produção de ouro em 2015 teve origem em minério com teor acima da média dos depósitos — o que sinaliza que as zonas mineralizadas de baixo teor e maior custo de extração foram deixadas de lado, podem vir a representar uma crise adiada para o futuro, repetindo algo que já se viu no início dos anos 2000. A conta vai chegar em algum momento no futuro.