O primeiro ministro Narendra Modi, que desbancou o Partido do Congresso que dominava a política indiana desde sua independência, prometeu mudar a Índia na sua campanha eleitoral — e ao que parece, às vezes até por vias tortas, está avançando com as reformas que precisam vencer sólidos corporativismos, burocracia secular e oligopólios entranhados no país.

A compra de terras na Índia enfrenta uma floresta de burocracia inclusive a nível de governo local, com toda a tradição de erguer dificuldades e negociar facilidades. A poluição em algumas regiões supera os índices notórios das cidades chinesas. As melhorias na infraestrutura de ferrovias, rodovias, portos e energia elétrica têm avançado a velocidade de elefante — um dos símbolos nacionais. Um exemplo dessa obsolescência é o fato de a maior parte das fábricas no país usa geradores próprios.

O Parlamento indiano obstruiu a reforma da legislação trabalhista, dos direitos de propriedade sobre a terra e uma simplificação dos impostos estaduais. Os próprios governos estaduais precisam reformar estas duas legislações. Uma regulamentação para facilitar a conversão de terras agrícolas em industriais também empacou, com feroz oposição dos agricultores. Recorrer à justiça hoje para solucionar uma disputa, seja cível ou comercial, equivale a postergar sem prazo a resolução.

Mesmo com todos esses entraves, o tamanho do mercado doméstico indiano de mais de um bilhão de habitantes e o nível salarial relativamente mais baixo tem atraído novos empreendimentos industriais. A GM oficializou um programa de investir US$ 1 bilhão no país para produzir modelos para o mercado local, além de duplicar sua fábrica na região de Pune. Ali também está sendo erguida uma planta da CNH Industrial para colheitadeiras agrícolas. A Ford inaugurou uma linha de montagem de carros e a Mercedes adicionou uma linha para ônibus na sua fábrica de caminhões.

A Corning opera uma planta automatizada para produzir fibras ópticas em Pune. A Foxconn, principal produtor global terceirizado de smartphones e eletrônicos similares, que acaba de comprar uma fábrica da Microsoft, anunciou planos para abrir uma dezena de plantas na Índia no prazo de até 2020, gerando 50 mil postos de trabalho. A maioria dos fabricantes de equipamentos rodoviários — a chamada linha Amarela — tem plantas industriais na Índia.

Este gigante asiático tem problemas parecidos com o Brasil, com o agravante de ter mais de um bilhão de habitantes para alimentar, transportar, educar, medicar, etc. Se a Índia tem mantido uma taxa de crescimento médio anual do PIB em torno de 7%, existe algo profundamente errado em nosso modelo de gestão da economia — cujas falhas ficaram escancaradas na crise atual.

Acreditamos que o modelo do governo centralizado como tal em Brasília se esgotou. É urgente que os principais Estados, do norte ao sul, se articulem com os 100 maiores municípios brasileiros, para estruturar um programa de retomada econômica, com geração de novos empregos, em conjunto com as federações das indústrias locais e os empreendedores privados, dando prioridade às vocações regionais, as fronteiras econômicas florescentes e as obras de melhoria da infraestrutura a serem reiniciadas. Os Estados e a iniciativa devem manter um dialogo objetivo com os órgãos ambientais, de modo que as licenças tenham prazo para serem emitidas, considerando o interesse maior do Pais. A mineração está naturalmente incluída aqui; ela precisa diversificar sua pauta de produção mineral e buscar agregar valor em produtos transformados. Apontar o dedo e criticar já não basta, nem esperar pelos próximos governantes a serem eleitos — o País precisa de propostas objetivas de retomada econômica já.

Fonte: Revista Minérios & Minerales