Por Patrícia Muricy*
A recente reforma na indústria de mineração – com a alteração do regime da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) e a substituição do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) pela Agência Nacional de Mineração (ANM) – tem gerado discursos de esperança entre os players do setor. Quanto mais a proposta de valor da indústria é questionada, mais as empresas enxergam que só poderão ter sucesso no futuro se mudarem a maneira como operam.
Depois de altas e baixas históricas nos preços das commodities, as empresas de mineração realizaram aquisições e consolidações significativas, com mudanças operacionais e foco na 4ª revolução industrial que atingiu todos os setores ao redor do mundo. Para essa indústria, considerada séria e conservadora, as transformações foram surpreendentes e prometem reestabelecer a confiança dos stakeholders, garantindo bons resultados em um futuro não tão distante.
Nos últimos anos, acompanhamos empresas adotando práticas transformadoras. Para a próxima década, veremos a continuação da rápida mudança na indústria em um cenário de declínio da oferta de minério de ferro, diminuindo a disponibilidade de ativos de primeira linha e foco contínuo nos retornos aos acionistas.
Ao abrir novos caminhos para o futuro, o objetivo agora é mudar para impulsionar investimentos contínuos em inovação e digitalização, voltados à força de trabalho do futuro, manifestando seu compromisso de fortalecer as relações com governo e comunidade e orientando seus esforços para reparar sua imagem pública. Em uma análise criteriosa sobre o assunto, a Deloitte, que conta com especialistas globais em mineração, elaborou o relatório Tracking The Trends 2018, no qual compartilhamos experiências com o objetivo de identificar as estratégias que as organizações pretendem adotar para se manterem competitivas.
Com base no estudo, comento sobre as 10 principais tendências para o setor de mineração.
- Trazer o digital para o uso diário – Usar insights orientados por dados que, além de gerar valor, estimulam novos modelos de negócios, permitem a criação de estratégias e práticas para transformar os principais processos de mineração, aumentam o fluxo de informações e facilitam o apoio a métodos de back office.
- Superar as barreiras para inovar – Traçar um caminho para a maturidade em inovação é necessário para a indústria se transformar. Inovações tecnológicas, adoção de mais abordagens inovadoras envolvendo os stakeholders e identificação da demanda de mercado futura são alguns fatores que podem ser alcançados.
- Futuro do trabalho – Com a automação transformando o mercado de trabalho e com a digitalização das minas e dos processos, a gestão de pessoas no setor de mineração muda drasticamente. Novos processos corporativos surgirão com o uso de robôs e estes passarão a apoiar a força de trabalho. Outro fator interessante será a facilidade de trabalhar de locais remotos, além da contratação de funcionários em tempo parcial e de pessoas com deficiências físicas.
- A imagem do setor – Mudar as percepções de imagem do público, funcionários e clientes, não parece ser um trabalho fácil, diante das ocorrências de danos ao meio ambiente e impactos na sociedade, mas o setor de mineração tem apresentado uma significativa contribuição para a economia mundial, o que deverá tornar esse trabalho menos complicado frente a um cenário histórico negativo.
- Transformar o relacionamento com os stakeholders – Para expandir as oportunidades de emprego local, melhorar a arrecadação e atender aos pedidos de melhor infraestrutura e menor impacto ao meio ambiente, os governos de países ricos em recursos naturais pressionam cada vez mais a indústria de mineração. Para alcançar resultados sociais mensuráveis, é necessário trabalhar novas formas de abordagem e relacionamento com os stakeholders e todas as outras partes interessadas.
- Gerenciamento da água – Encontrar soluções sustentáveis para essa questão é um dos desafios mais urgentes. A água tornou-se um dos recursos mais críticos para o setor de mineração. Cada vez mais relevante para garantir um bom nível de minério. E essa demanda se torna delicada, pois a escassez de água, segundo a ONU, já afeta grande parte da população global.
- Atender às novas expectativas dos acionistas – Investidores exigem maior responsabilidade e retorno de valor da indústria. Durante décadas, esses fatores dependiam mais das realidades do mercado. Hoje, essa expectativa é maior e mais exigente, com pedidos de crescimento de fortuna corporativa em forma de aumento de dividendos, recompra de ações e maior retorno total para os acionistas.
- Encontrar um equilíbrio entre cautela e coragem – Graças ao intenso corte de custos, foco nos fundamentos e o compromisso com a simplificação do portfólio, as fortunas de muitas empresas de mineração estão em recuperação. No entanto, esta tentativa de reviravolta não pode remediar as restrições de oferta que atualmente assolam a indústria. Nos 10 anos anteriores a 2016, a quantidade de ouro descoberta diminuiu 85%, portanto é necessário encontrar um equilíbrio entre as medidas de redução de gastos e o investimento na busca de novas reservas.
- Realinhar sua Governança – Novas habilidades são necessárias para ajudar a impulsionar a transformação. De olho nisso, as empresas precisarão garantir que a sua Governança tenha a diversidade de skills necessários para abraçar as mudanças, ganhar a aprovação das autoridades e da sociedade, investidores e outros stakeholders, assim como reparar imagens negativas.
- Prever as commodities do futuro – Para avaliar em quais commodities investir e/ou desinvestir, as empresas precisam manter o foco nas demandas flutuantes do consumidor global, nas mudanças demográficas e econômicas, nos efeitos das mudanças climáticas e na adoção de novas tecnologias pelo mercado.
Na última década, a indústria de mineração se transformou radicalmente. Por conta da crise global e mudanças locais, muitas empresas sentiram a necessidade de conter custos, rever a estratégia e gerenciar riscos. De agora em diante, acredito que o objetivo é criar culturas organizacionais mais robustas, melhorar a eficiência e manter-se firme na implementação dessas medidas para melhorar a imagem e as práticas do setor, garantindo assim bons resultados para as organizações, governo e sociedade.
*Patrícia Muricy é sócia-líder de Mineração da Deloitte
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