Mobilização do chão da planta e mina até a gerência

A 6ª edição do Workshop da revistaMinérios & Mineralesmostrou que o evento deu origem a uma fraternidade informal de técnicos, engenheiros e geólogos que trocam suas experiências dentro desse vasto campo, cujo ponto focal é o ganho de produtividade e a redução de custos, com soluções muitas vezes aliadas aos benefícios ambientais. A mobilização dos quadros técnicos e operacionais começa no chão da planta e da mina e chega à gerência das operações e cúpula das empresas mineradoras.

O workshop, que foi criado no auge da crise global de 2008/2009, tornou-se um fórum especializado nessa questão, que ficou ainda mais evidente com o cenário de preços dos minerais e metais nos anos recentes. Produzir melhor e mais barato, com qualidade e segurança, adotando a preservação ambiental como filosofia operacional, consolida-se como paradigma da mineração brasileira.

Alline Simões Ferreira da Cunha, consultora de Engenharia II da Mineração Caraíba

Essa mobilização ampla das equipes operacionais pode ser exemplificada pelo time de sete integrantes da mina de Sossego, no Pará, da Vale, que projetou um desinflador para pneus OTR capaz de reduzir o altíssimo nível de ruído dessa tarefa e esvaziar dois pneus ao mesmo tempo. O trabalho foi apresentado por Paulo Roberto Silva Fernandes, líder de manutenção de pneus e Bruno Melo Serejo, planejador de Manutenção, ambos da Vale.

Outro exemplo é o veterano Marcos do Níquel, cujo sobrenome é Campos Silveira, gerente de metalurgia da planta de Niquelândia (GO), da Votorantim Metais, que liderou uma equipe de nove engenheiros e técnicos para implementar o uso de emulsão de óleo 2A + coque de petróleo nos fornos que reduzem o níquel e o cobalto ao estado metálico – uma aplicação pioneira no mundo.

Da esq. para dir.: Bruno Melo Serejo, planejador de Manutenção, da Vale, José Mendo, da JMendo Consultoria, e Paulo Roberto Silva Fernandes, líder de manutenção de pneus, da Vale

Alline Simões Ferreira da Cunha representou com brilho a Caraíba Mineração e as profissionais mulheres, cuja participação tem crescido no workshop da revista Minérios & Minerales. Ela, como consultora de engenharia, integra um grupo de técnicos que desenvolve o uso do xantato como coletor auxiliar para elevar a recuperação do cobre no processo. Num cenário de cinco anos, a empresa espera produzir 582 t a mais do metal na forma de concentrado sulfetado, graças a essa modificação.

Sob a dupla pressão dos custos em alta e da queda de preços dos minerais e metais, para onde caminham as novas fronteiras da tecnologia aplicada à mineração? Um relatório recente da Geovia, do grupo Dassault Systemes, traz o depoimento do CEO da Dundee Precious Metals, Rick Howes, uma pequena mineradora de ouro canadense, que ao assumir o cargo teve de encarar a revitalização da mina de Chelopech, na Bulgária. Ele batizou a campanha como “Tirando o véu”, porque aponta uma mina subterrânea como um buraco negro onde a visibilidade é muito precária, e a proposta dele era fazer uma gestão em tempo real, empregando tecnologias de última geração, algumas já testadas em indústrias como petróleo e aeronáutica.

Marcos Campos, gerente de Produção, da Votorantim Metais Níquel

Foram instalados em Chelopech redes dewi-fide baixo custo, montadas com componentes comprados “de prateleira”,tagsque usam o sistemawirelesspara rastrear os equipamentos e cada trabalhador – nesse caso, por razões de segurança no subsolo, programas desoftwarepara mapeamento, modelagem, estimativas, projeto, programação de atividades, simulação, e emissão de relatórios de gestão sobre produção da mina.

Howes afirma que “pequenos erros de estimativas podem ter graves impactos nos resultados. Uma superestimativa de 20% no teor pode provocar uma queda superior a 20% no retorno sobre investimento. Essa margem de erro era considerado aceitável na indústria e debitada à experiência variada dos profissionais envolvidos e das ferramentas utilizadas. Era evidente que todo o processo precisa ser otimizado, mas as tecnologias necessárias não estavam ainda inteiramente maduras. A mineradora precisou de fortes parcerias com provedores de tecnologias para implementar a integração delas e produzir resultados concretos”.

O programa “Tirando o véu” se valeu de planejamento detalhado e uma execução monitorada em tempo real, com intervenções para corrigir o curso das atividades, que permitiram eliminar atrasos, retrabalho e desperdício de recursos. Quando a Dundee retomou o controle da mina em 2003, conseguiu quadruplicar a produção de 500 mil t ROM/ano para 2 milhões t/ano. Para passar de um milhão para dois milhões t/ano, nenhum equipamento móvel novo foi adquirido e a produção adicional foi obtida através de ganhos operacionais. Comunicações eficientes foram uma ferramenta vital – a 400 m de profundidade, os emails chegam sem problemas e os celulares funcionam sem estática.