Programas computacionais auxiliam no controle e gerenciamento das operações e dinamizam a tomada de decisão. Desafio é integrar todas as soluções
Diante do atual cenário da indústria de mineração, com preços das commodities em queda e margens de lucro cada vez menores, as companhias se esforçam para reduzir os custos de produção e aumentar a eficiência das suas unidades.

Neste sentido, softwares modernos, muitos desses específicos para o setor, são peças-chave em busca da constante otimização das operações de lavra, desmonte, movimentação, transporte, beneficiamento e embarque, e também das atividades administrativas, como compra de suprimentos e almoxarife.

De acordo com um estudo recente da consultoria Deloitte, as mineradoras necessitam de sistemas que transformem a infinidade de dados coletados, por sensores, monitores e demais dispositivos, em inteligência artificial capaz de oferecer soluções práticas para o ganho de eficiência. O trabalho aponta que mais do que a adoção de programas analíticos é preciso integrar os sistemas de supervisão e aquisição de dados, que utilizam softwares para monitorar e supervisionar as variáveis do processo, com as plataformas ERP (Enterprise Resource Planning) – sistema de gestão desenvolvido para integrar todas as informações corporativas.

“Com a maioria dos ganhos rápidos já capturados, as mineradoras estão buscando melhorias operacionais. Essas soluções podem incluir aportes em inovação de automação e robótica para dados analíticos, sendo uma forma de desbloquear novos ganhos. A ideia é permitir uma melhor tomada de decisão por meio da adoção de uma plataforma comum com habilidade de compartilhar informações por toda a empresa e em tempo real”, diz o estudo.

Softwares de geologia e planejamento de mina, programas que auxiliam na produtividade e otimização de frota e sistemas de telemetria que antecipam intervenções e evitam falhas em máquinas e equipamentos são alguns exemplos de ferramentas já difundidas no dia a dia das mineradoras. No entanto, a integração das diversas operações em tempo real, com a possibilidade de armazenamento e gerenciamento em nuvem ainda é um campo relativamente novo para o setor e que pode trazer benefícios em relação à assertividade e rapidez na análise e gerenciamento de dados.

Para Wellington Gomes, engenheiro de minas da Dassault Systèmes, multinacional francesa que fornece softwares de projeto 3D, 3D Digital Mock Up e Product Lifecycle Management (PLM), a perspectiva é de que as empresas do setor necessitarão de maior confiabilidade para suas operações e para isso buscarão novas ferramentas e soluções tecnológicas. “Em função do atual cenário é necessário investir em alta tecnologia para aumentar a eficiência operacional e consequentemente, a competitividade”, afirma.

Gomes ressalta que a mineração é um segmento que adotou a TI de forma mais lenta e ainda está atrás de muitas indústrias.

“Um bom exemplo é o setor manufatureiro, que teve plena expansão após “rever conceitos” e adotar a tecnologia como fator chave de sucesso”, completa.

Na mesma linha, Andres Fatoreto, gerente para a indústria de Mineração da Bentley, empresa norte-americana fornecedora de programas de design, construção e operação de infraestrutura, inclusive plantas industriais, lembra que atualmente a TI está inserida em praticamente todas as fases do negócio, desde o planejamento, concepção, projeto, construção, operação, manutenção, até em sistemas de análise, simulação, controle e tomada de decisão. “Os investimentos em tecnologia por parte das mineradoras são cada vez mais importantes, pois ajudam a fazer análises, minimizar riscos e custos operacionais, agilizar e automatizar processos e aumentar a eficiência e a segurança da operação” comenta.

Dassault reforça presença na mineração

Após a aquisição da Gemcom, em 2012, a Dassault criou a marca Geovia e desde então vem expandindo o uso dos softwares para automação de processos e otimização de projetos de mineração, como é o caso dos programas Geovia Whittle, Geovia MineSched e Simulia ISight. Recentemente, a Vale Fertilizantes adquiriu licenças para a utilização das soluções MineSched e Whittle.

Apesar de sentir um desaquecimento do mercado, Wellington Gomes, engenheiro de Minas da empresa, diz que há um espaço para novos fornecimentos em função da maior busca por eficiência e produtividade. Segundo ele, a necessidade de se manter competitivo no mercado exige excelência através de redução de custos e aumento de qualidade.

“Os trabalhos manuais na mineração costumam gerar margens de erro e tomam muito tempo. A adoção de softwares promove a geração de informações confiáveis e velocidade no processamento de informações, ajudando com que empresas reajam rapidamente a diferentes cenários e se readéquem às condições de mercado”, ressalta.

O Geovia Whittle atua na análise da viabilidade de empreendimentos minerários, fornecendo dados em relação aos do projeto. O MineSched provê uma otimização das atividades da mina (subterrânea e a céu aberto), aumentando a produtividade por meio da organização das atividades. Já a Simulia refere-se a um sistema aberto para integração de design e modelos de simulação – criados com vários CAD, CAE e outros aplicativos – para automatizar a execução de centenas ou milhares de simulações.

Segundo o engenheiro, a empresa tem como foco dar suporte, de forma completa, às operações da mineradora, e não somente na área específica de atuação do programa, visando a maximizar os ganhos. Para isso, a companhia mantém um escritório Geovia em Belo Horizonte (MG). No local, técnicos trabalham tanto no treinamento de novos usuários como no suporte aos clientes, bem como nas tarefas de consultoria.

Em paralelo a expansão das suas soluções para a indústria de mineração, a Dassault pretende levar seus produtos para os mercados de óleo e gás, água e agricultura.

Radix busca readequar soluções existentes

Com o objetivo de estar mais próxima do setor mineral, a Radix, empresa nacional de engenharia e software, criou, em 2015, uma unidade especialista na área de metais, mine
ração, cimentos e agroindústria. Além disso, a companhia apresentou uma proposta de remodelamento, que envolve uma análise dos custos e benefícios para reativar sistemas de softwares pouco utilizados nas mineradoras.

“Geralmente, readequar uma tecnologia é muito mais barato do que comprar um pacote novo. É comum nas empresas de mineração e siderurgia existir soluções de automação e software subutilizadas, ou simplesmente paradas. Nós realizamos uma análise dos custos para reativar o sistema e calculamos os benefícios desse revamp”, afirma Flávio Waltz, diretor da Radix.

Entre as tecnologias que a empresa fornece está o BleSS (Blending Simulation System), sistema computacional que simula e otimiza os resultados do blend (mistura) de minérios.

O programa leva em conta os parâmetros relevantes ao comportamento do minério quanto a seu tratamento, proporcionando ganhos de produção e recuperação metalúrgica.

“Com o BleSS é possível regularizar os parâmetros do fluxo de minério alimentado à usina, com ganhos de produção e recuperação metalúrgica. O operador pode analisar as alternativas para contornar desvios imprevistos por necessidades operacionais, e obter o melhor aproveitamento das reservas, inclusive as de baixo teor e obter redução de custos”, ressalta Waltz.

Outra ferramenta da empresa refere-se ao sistema de telemetria TAnGO, que analisa e interpreta informações extraídas da eletrônica embarcada de caminhões fora-de-estrada.

O software gerencia as condições operacionais das vias podendo alertar a equipe de infraestrutura sobre possíveis problemas. Na área de segurança operacional, a Radix disponibiliza o A!ProX, capaz de controlar a localização de pessoas ou equipamentos móveis em tempo real. A tecnologia tem múltiplas aplicações, como alertar os operadores de veículos e equipamentos sobre a presença de colaboradores no campo ou planta, evitando acidentes. É também utilizada para detectar a presença de trabalhadores em locais controlados como, por exemplo, minas subterrâneas.

“A Radix por atuar em outros segmentos, como óleo e gás, energia, varejo e entretenimento, consegue trazer programas desconhecidos e inovadores para o setor mineral, aliando tecnologia e criatividade nas soluções propostas em seus projetos”, comenta Waltz.

No campo da mobilidade e armazenamento de dados em nuvem, a companhia oferece o SInOp – Sistema de Informações Operacionais. O programa possui interface amigável com sistemas existentes na mina como supervisórios, PLCs, sistemas especialistas, MES, entre outros; e pode ser acessado de computadores, smartphones, tablets ou pela nuvem.

“Esse produto é altamente configurável e permite que informações vitais sejam divulgadas democraticamente em tempo real para toda a empresa. Além disso, o SInOP possui um repositório de dados que permite análises avançadas como Analytics (IIOT)”, conclui o diretor.

Soluções life cycle da Bentley aprimoram projetos

A Bentley trouxe para o mercado os seus programas MineCycle Designer, MineCycle Survey e MineCycle Material Handling, que abrangem todo o ciclo de vida de projetos de mineração, atuando na modelagem de projetos e avaliação sistemática de cenários opcionais, levantamento de minas subterrâneas e a céu aberto e movimentação de materiais pesados (BMH).

O MineCycle Material Handling (Movimentação de Materiais), por exemplo, é um aplicativo de desenho criado especificamente para a movimentação de material pesado (BMH) que proporciona um ambiente de design automatizado, englobando disciplinas civis, estruturais e mecânicas.

BleSS, da Radix, simula e otimiza o blend de minérios

Segundo a empresa, o software permite que os EPCs e consultores concluam desenhos preliminares 30% mais rapidamente e de melhor qualidade para a entrega de estudos de viabilidade e propostas.

Surpac, um dos produtos da Dassault

Com as soluções da empresa, os usuários podem aprimorar seus trabalhos de topografia do terreno, modelar em 3D, gerenciar documentos de engenharia (GED), gerir a manutenção e o descomissionamento de uma mina

Para este ano, a empresa pretende focar ainda mais no setor de mineração da América do Sul, como tem feito em outras regiões. “Nossos softwares são amplamente utilizados em países com forte exploração mineradora, como Chile, África do Sul e Austrália. A Bentley desenvolveu essas soluções com a cooperação formal e direta de líderes do setor, contando com o know-how de empresas renomadas como a Anglo American, AngloGold Ashanti, Lonmin Plc e Royal Bafokeng Platinum. Este ano a Bentley também investirá mais no mercado brasileiro, com eventos e parcerias estratégicas”, ressalta Andres Fatoreto, gerente para a indústria de Mineração da Bentley.

Presente no país desde 1997, a empresa conta com profissionais especializados para prestar serviços de consultoria, suporte técnico local, treinamento e capacitação.

Astrein oferece otimização de compras e almoxarife

O SSA-CAD da empresa Astrein foi desenvolvido para informatizar a central de cadastro de materiais e peças sobressalentes operada pelo departamento de compras ou almoxarifado.

Com o programa, as mineradoras podem produzir especificações de compra de materiais de forma completa, padronizada e normalizada, eliminando a duplicidade de itens e realizando a sua classificação fiscal.

Entre as funcionalidades e benefícios dos programas, os usuários terão acesso às descrições completas dos pedidos, reduzindo a possibilidade de aquisição errada de itens e aprimorando a coleta de informações. “O programa provê uma visão total sobre os gastos, o que favorece a implantação de ações de Spend Analisys e Strategic Sourcing. Pretendemos expandir o uso do software na área de mineração a partir da experiência positiva adquirida nos setores de construção pesada e de agronegócio”, Marcelo Ávila Fernandes, presidente da Astrein.

A companhia, com escritório em São Paulo (SP), possui mais de 25 anos de experiência no desenvolvimento de software, treinamentos e serviços para as áreas de centrais de cadastro, gestão de manutenção e facilities, e inspeção de obras.

Rio Tinto visa a produtividade com centro na Índia

A anglo-australiana Rio Tinto, segunda maior produtora de minério de ferro (atrás da Vale), começou a operar, em 2015, o seu Centro de Excelência Analítica (Analytics Excellence Centre) em Pune, na Índia. Com a nova estrutura, a mineradora pretende aumentar a eficiência produtiva de todas as suas unidades ao redor do mundo. O centro avalia grandes volumes de dados captados pelo conjunto de sensores e softwares instalados nas máquinas móveis da empresa, permitindo que especialistas analisem essas informações e evitem falhas e eventos de parada, aumentando a produtividade e segurança.

“O centro vai nos ajudar a prever o futuro através da utilização de técnicas avançadas de análise de dados para identificar com precisão o desempenho operacional dos nossos equipamentos. A ideia é extrair ao máximo dos dados de desempenho que estão sendo capturados constantemente nos equipamentos, tornando nossas operações mais previsíveis, eficientes e seguras”, afirma Greg Lilleyman, diretor de Tecnologia e Inovação da Rio Tinto.

Para o desenvolvimento e operação do centro, a Rio Tinto fechou uma parceria com a Igate, empresa norte americana de produtos e serviços de TI. A criação da unidade faz parte do programa da mineradora Mine of The Future, dedicado a encontrar formas de melhorar a segurança e a produtividade. “Estas análises irão reduzir os custos de manutenção e perdas de produção de avarias não planejadas”, completa Lilleyman.

Sama mescla softwares de marcas tradicionais comprogramas próprios

A mineradora Sama, que explota amianto crisotila em Goiás, atualmente utiliza softwares de fornecedores tradicionais e também desenvolvidos por sua equipe, que são aplicados em diferentes atividades e áreas, como mina, exploração, administrativo, RH, planta, sistemas da qualidade, manutenção, ERP, etc.

Os principais programas utilizados na unidade são: Modelamento e planejamento geológico de mina – Vulcan (Vulcan); gerenciamento e otimização da operação de minas – Smartmine (Devex); RH – Folha de Pagamento (ADP); RH – Controle de Ponto – Forponto (Task); RH – Controle de Acesso – Foracesso (Task); ERP: ECC (SAP); fiscal – GF (Thomson Reuters); fiscal – Sati (Sonda) e outros desenvolvidos internamente. Todos os softwares têm contrato de manutenção com os fornecedores, que ministraram treinamentos também, diretamente ou por meio de consultorias indicadas.