Previsão é 18% maior em relação ao valor estimado entre 2019 e 2023

O setor de mineração no Brasil deve receber investimentos de US$ 32,5 bilhões entre 2020 e 2024, segundo previsão do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). O número é 18% maior do que os US$ 27,5 bilhões estimados para o período anterior, de 2019 a 2023. No ano passado, o faturamento do setor cresceu 29,3%, para US$ 38,9 bilhões, apesar dos impactos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na região metropolitana, na produção. A tragédia, que ocorreu em 25 de janeiro de 2019, deixou 270 mortos.

De acordo com o presidente do Ibram, Flávio Penido, a previsão de aumento de investimentos em cinco anos sinaliza a confiança de investidores no setor. Os números foram calculados com base no total de projetos divulgados pelas mineradoras no país. “Isso demonstra uma forte recuperação do setor. Todos esses projetos são aderentes às melhores praticas internacionais de segurança operacional”, afirmou. Segundo o instituto, serão investidos R$ 2,3 bilhões na segurança de barragens de rejeitos – 75% do valor será aplicado pela Vale, que, no ano passado, anunciou a descaracterização de nove barragens à montante.

A paralisação de minas da mineradora após a tragédia contribuiu para a queda de 8,8% na produção de minério de ferro no país no ano passado, o que fez os preços dispararem. Enquanto a exportação do produto caiu 12,6% em volume, o valor exportado subiu 9,7%. Para este ano, a expectativa é de queda de preço, mas o crescimento da produção deve compensar a perda e equilibrar as receitas do setor novamente.

Demanda. Segundo o Ibram, a tendência é que projetos de infraestrutura, habitação e saneamento dos governos federal e estaduais alimentem o crescimento da produção e do consumo interno de agregados de construção, como areia e brita, assim como de minerais metálicos, como ferro, manganês e chumbo. Com a expectativa de redução da produção de aço e do consumo de minério de ferro pela China, maior importador do produto, o preço médio da tonelada da commodity deve cair para cerca de US$ 70 neste ano, ante US$ 93 em 2019. O valor já está em queda, influenciado pelo surto de coronavírus no país asiático.

“Em janeiro de 2019, quando 50 milhões de toneladas saíram da oferta, não havia dúvida de que o preço iria explodir. O mercado se acomoda, não só no Brasil, como na Austrália: a produção é retomada e a capacidade ociosa instalada volta a funcionar na maior carga possível. Uma vez que a demanda é saciada, os preços tendem a cair”, explica Penido. A Austrália é o principal produtor de minério de ferro do mundo e maior concorrente do Brasil, que ocupa a segunda posição.

O otimismo do setor se deve também a uma norma publicada neste ano pela Agência Nacional de Mineração (ANM), que estabelece a aprovação automática de requerimentos de pesquisa mineral que não forem analisados em 120 dias. A expectativa é que a mudança atraia novos investimentos, uma vez que, até então, não havia prazo estipulado.

No ano passado, 7.210 alvarás de pesquisa foram liberados, uma queda de 22% em relação a 2019. A pesquisa é a primeira etapa para empresas que buscam licença para exploração mineral.

Setor está “alheio” à exploração em terra índigena, diz Brumer

O projeto de lei assinado neste mês pelo presidente Jair Bolsonaro que autoriza atividades minerárias em terras indígenas é uma proposta do governo federal, e não das mineradoras, segundo o Ibram. O presidente do conselho do instituto, Wilson Brumer, disse que as mineradoras só terão interesse em investir nesses locais quando houver segurança jurídica.

“Nenhuma empresa de mineração no mundo vai investir nessas áreas se não houver segurança jurídica, nenhum investidor vai aprovar esse tipo de investimento, não vai haver recursos para isso”, afirmou Brumer, ressaltando que o projeto de lei não trata apenas de mineração, mas também de exploração de petróleo e gás e geração de energia em terras indígenas. “O setor nem está discutindo isso”, pontuou.

Segundo o presidente do Ibram, Flávio Penido, o setor tem uma “preocupação muito grande” com a própria imagem, e as mineradoras associadas ao instituto não vão investir em terras indígenas se o assunto não estiver “apaziguado” com governo, Congresso e sociedade.

“Hoje existe uma lenda de que as terras indígenas têm um eldorado, que quando liberarem (a exploração) vai haver uma invasão de mineradores e garimpeiros, mas não se conhece nada do que tem lá”, disse. “A primeira coisa que terá de ser feita depois desse longo processo é uma pesquisa pra ver o que existe lá, não tem nada definido”, completou Brumer.

Saiba mais

Participação. O Brasil é o principal exportador de nióbio do mundo, e o segundo maior exportador de ferro. O país também tem a maior reserva de nióbio do mundo. Segundo o Ibram, o país tem grande potencial para descobrimento de novas reservas, mas carece de investimento em pesquisa.

Bolsa. O setor trabalha na criação de uma bolsa de minério para atrair investimentos. A expectativa é conversar com as bolsas de São Paulo e do Canadá sobre o assunto nos próximos dias.

Empregos. A maior parte dos empregos gerados pela mineração está em Minas Gerais. O Estado concentra 31,6% dos trabalhadores do setor, seguido do Pará e de São Paulo.

Números. Minas Gerais exportou, no ano passado, 247 milhões de toneladas de produtos de origem mineral, uma queda de 15% em comparação com 2019, devido principalmente à redução da exportação de ferro. Contudo, o valor das exportações aumentou 11%, para US$ 11,5 bilhões.

FONTE: O TEMPO