O mercado global de lítio estima alcançar, no período entre 2018 a 2023, uma taxa anual de crescimento (CAGR – Compound Annual Growth Ratio) próximo de 9,33%, sendo que a região asiática (China) será protagonista em razão do rápido crescimento na produção de seus veículos elétricos e equipamentos eletrônicos (fonte: Global Líthium Market, 2018/ www.mordorintelligence.com).
O crescimento de demanda de lítio por veículos elétricos tem relação com políticas globais de redução de níveis de emissão de CO2 para a atmosfera, principalmente nos países industrializados.
Baterias de lítio são de dois tipos: o primeiro é a bateria descartável (utiliza lítio na forma metálica como ânodo) e a outra é a bateria recarregável (baterias íon-Lí utilizadas em ampla variedade de equipamentos como veículos elétricos, telefones celulares, laptops, tablets, ferramentas elétricas, videogames, e-bikes entre outros). A Figura 1 mostra esquema de funcionamento de célula de bateria íon-Li.
A Figura 2, extraída de palestra (Roskill) apresentada na cidade de Salta, na Argentina, “Lítio em Sudamérica: Mercado internacional del lítio y valor agregado”, que ocorreu em junho de 2018, destaca que a maioria dos produtos que consomem lítio em sua fabricação apresentaram crescimento de demanda no período entre 2000 e 2017. Destaque para baterias recarregáveis que saltaram de 7%, em 2000, para 46% de expansão em 2017.
Grandes produtores de lítio já instalados (Albemarle/Chile, SQM/Chile, Talison Lithium/Austrália e Ganfeng Lithium/China) estão na liderança da corrida para conquistar maiores fatias desse mercado com investimentos visando a elevar a capacidade produtiva e melhorias nas plantas de processamento industrial. Por outro lado, juniors companies australianas e canadenses desenvolvem esforços agressivos de exploração para rastrear recursos econômicos de lítio associados a pegmatitos (espodumênio) e salares/brines (evaporitos/salmouras) em todos os continentes, buscando um lugar ao sol nesse cenário.
Segundo Smith L et ali, 2011(1), recursos de lítio com atratividade econômica são encontrados em salmouras (brines & salares, 62%), minerais pegmatíticos (espodumenio, petalita, ambligonita, lepidolita, 23%), jaderita (3%), geothermal brines (3%) e argilas ricas em hectorita (3%).
A América do Sul detém aproximadamente 60% das reservas e recursos globais de lítio (USGS, 2010/2013(2)) destacando-se a região da tríplice fronteira Chile-Argentina-Bolívia, sendo que em território brasileiro, as áreas com potencial prospectivo para lítio (hard rock) estão relacionadas às Províncias Pegmatíticas do Sudeste (MG) e Borborema (CE, RN e PB) – Figura 3).
Ocorrências de pegmatitos no Brasil são conhecidas desde 1924, mas somente por volta de 1942 houve esforços de exploração e tentativas para produção de concentrados de lítio. A explotação em escala comercial iniciou-se por volta de 1966 – Nuclemon, para produzir sais de lítio – depois da descoberta de corpos pegmatíticos com espodumenio na região de Araçuaí/MG (Braga, F. A. et alii, 20143).
Em território brasileiro, os terrenos geológicos com melhor potencial prospectivo para hospedar depósitos de lítio estão relacionados às ocorrências de pegmatitos em dois setores:
- Província Pegmatítica do Sudeste (região de Araçuaí, Governador Valadares, Coronel Murta, entre outras no estado de MG – Figura 4)
Os campos pegmatíticos que integram a Província do Sudeste se apresentam com extensão de aproximadamente 450 km, segundo trend N10W (entre Santa Maria de Itabira, ao sul, e Medina, ao norte) e com largura máxima próximo de 180 km (entre São José da Safira, passando por Conselheiro Pena).
Notas:
-
A definição dos limites de cada campo pegmatítico mostrado na Figura 4 é o resultado da compilação de dados que, depois de validados, foram processados em plataforma GIS para interpretação (delimitação dos limites de cada campo pegmatítico) em fundo com superfície topográfica (Modelo Digital de Terreno/ NASA: SRTM 30 metros).
-
Outros dados utilizados nesse processamento correspondem às informações de cadastramento de ocorrências minerais realizados em projetos básicos (CPRM/Cartas Geológicas do Brasil ao Milionésimo e CODEMIG/Projeto Leste e, também, dados obtidos no DNPM/ANM – SIGMINE para identificar processos minerários em tramitação na fase de Concessão de Lavra para substâncias relacionados a sistemas pegmatíticos.
Admitindo-se que os atributos referentes às informações associadas aos campos de descrição de cada ocorrência mineral catalogada pela CPRM e CODEMIG estão corretos, então é possível priorizar setores para rastrear pegmatitos litiníferos nessa província em Coronel Murta, Araçuaí, Carbonita e Conselheiro Pena (estrela azuis na Figura 4). Pode ser um bom começo.
- Província Pegmatítica da Borborema (região de Ocara-Solonópole/CE, Currais Novos/RN e Quixaba/PB – Figura 5).
Na Província Borborema os campos pegmatíticos individualizados a partir de ocorrências minerais (projetos básicos CPRM) e análise de dados de direitos minerários (SIGMINE – DNPM/ANM) geram figura no formato de “U” com concavidade voltada para o rumo NW, manifestando-se em Ocara-Solonópole/CE, passando por Tenente Ananias/RN, Quixaba/PB e Currais Novos- São Tomé/RN; os registros de pegmatitos litiníferos estão concentrados na região de Solonópole e Ocara/Russas no estado do Ceará.
Nota:
A importância da informação de topografia com qualidade adequada aos objetivos do estudo está relacionada à possibilidade de se realizar análise estrutural (fator relevante para controle de mineralização), permitindo destacar lineamentos bem definidos que espelham zonas de falha e/ou zonas de cisalhamento. Notar que todos os campos pegmatíticos definidos por este estudo estão posicionados ao norte do lineamento bem definido que passa pelas cidades de Campina Grande, Quixaba e Juazeiro do Norte (Lineamento de Pernambuco).
Historicamente essas províncias pegmatíticas são produtoras de “pedras coradas” (água-marinha, alexandrita, turmalinas etc.) além de feldspatos, quartzo, de tantalita, columbita, berilo, espodumênio, ambligonita, petalita, lepidolita etc.
Como resultado dessa análise fica evidente a existência de terrenos geológicos produtivos para mineralizações de lítio no território brasileiro, os quais podem reservar boas surpresas em termos de resultados de investimentos em novos programas de exploração.
Há pelo menos dois bons motivos para justificar decisões de investimento: primeiro, projeções futuras otimistas de demandas para lítio na fabricação de baterias recarregáveis (boom de veículos elétricos) e, segundo, existência de extensas áreas com terrenos geológicos de elevado potencial prospectivo para lítio (províncias pegmatíticas).
Do ponto de vista de geologia econômica, geólogos de exploração que rastreiam mineralizações de lítio associadas a pegmatitos devem atentar para possibilidades de pedras semipreciosas e rocha ornamental (pode produzir pranchas com desenhos exóticos que tem boa aceitação no mercado italiano, por exemplo).
Outro aspecto importante é o fato de que o aumento de demanda para lítio visando à produção de pilhas íon-Li potencializa a busca por outros commodities minerais como, por exemplo, grafita (ânodo), cobalto, manganês, níquel (cátodo), fosforo e flúor (eletrólito).
Essa é razão principal que justifica o interesse de empreendedores por informações de geologia, de mercado ou novas alternativas de tecnologia com foco nesse tema.
Modelos geológicos bem concebidos (com grau de confiança aceitável segundo controles JORC/Austrália, NI-43101/Canadá ou CBRR/Brasil) são a base que sustenta toda a cadeia produtiva do setor mineral e sua construção tem início nas fases embrionárias de projetos de exploração mineral; isso vale na prática para todos tipos de commodity mineral .
Leituras de mapas aerogeofísicos (radiometria & magnetometria) são de grande ajuda para se confirmar estruturas interpretadas a partir de dados topográficos (Magnetometria dá respostas de lineamentos do embasamento em subsuperfície e radiometria dá respostas de leituras para urânio, potássio e tório, elementos constituintes relativamente comuns na estrutura de minerais pegmatíticos.
Nunca é demasiado lembrar que baterias tem vida útil limitada e, assim sendo, mais dias ou menos dias, haverá lixo de alto potencial poluidor a ser administrado. Atualmente esse lixo já é matéria prima (recurso) para empresas de reciclagem visando à recuperação e reaproveitamento desses metais. A natureza agradece!
Referências Bibliográficas citadas:
- Smith, L. et alii, 2011 Global lithium market outlook: projects and strategies to 2010 for a new era of demand, Metal Bulletin Research, Breadfordshire, UK;
- S. Geological Survey (2010-2013), Lithium, Mineral Commodity Summaries, Virginia, USA;
- Braga, F. A. et alii, 2014, How big is the lithium market in Brazil? – XXVII International Mineral Processing Congress -IMPC 2014, Santiago, Chile.
[themoneytizer id=”240
Últimos Comentários