Automação de processos pode contribuir para aumento da produtividade, redução de custos operacionais e aprimoramento do controle de qualidade do minério, afirmam empresas especializadas
Marcelo de Valécio
Segundo Marcos Andrade, é possível aplicar automação de processos em todas as etapas da produção mineral. “Estamos focados na operação de mina e nossas ferramentas permitem que os gestores tenham informações com confiabilidade e agilidade iguais às demais etapas do processo, como exploração e beneficiamento”, diz. “Em geral, eliminamos a necessidade de controle da produção dos equipamentos móveis via preenchimento de formulários em papel e sua posterior digitação em planilhas digitais, evitando possíveis erros e aumentando a confiabilidade na obtenção dos dados de operação, possibilitando, assim, ações corretivas da gestão em tempo real.” Fazem parte dos sistemas oferecidos o controle de operação de mina (despacho), controle de operação de sonda e “antifuga” de combustível. As ferramentas da Sodep têm prazo de implantação de 30 a 60 dias, envolvendo nas respectivas etapas as equipes de operação da mina, principalmente na mudança de cultura e treinamento. “A maior barreira encontrada no mercado de mineração para a automação ainda é a cultural, ou seja, a adoção de novo conceito operacional, pois as exigências são mínimas, visto que tornamos a utilização de nossas ferramentas muito acessíveis (turn key) e fáceis de utilizar pela tecnologia amigável”, revela o executivo.
Entre as soluções em automação oferecidas pela Sodep está o Minetrack, sistema de monitoramento, gerenciamento e otimização da frota produtiva da mina. Segundo a empresa, a solução monitora e gerencia cada equipamento em todas as etapas do ciclo produtivo. Aliado a um software que utiliza a implementação de algoritmos inteligentes, o Minetrack apresenta várias funcionalidades que podem ser agregadas ao módulo básico de gerenciamento, como controle de combustível, controle de manutenção, telemetria dos equipamentos, controle de qualidade dos minerais. Em cada equipamento de carga e de transporte, é instalado um dispositivo que é responsável por enviar diversas informações, como localização, operador e carregamento para a central de controle. “Por meio de uma rede de comunicação proprietária, ocorre a comunicação entre os equipamentos, antenas e central de controle, possibilitando o monitoramento de toda a frota e produção da mina, com segurança e com alto nível de detalhes”, afirma Marcos Andrade. “Com os dados coletados pelos módulos do Minetrack é possível montar uma sala de controle operacional, onde se monitora toda a frota e produção da mina em tempo real. Por meio de indicadores personalizados para a realidade de cada cliente se obtém gráficos com dados do momento, por turno e históricos, para acompanhamento e tomadas de decisão preventivas”, esclarece Andrade.
“Uma das maiores novidades do setor é automatizar e simular processos que contêm vários aplicativos”, acrescenta Chawki Jreige, técnico de Vendas Sênior da Dassault, empresa que também oferece sistemas de automação para o setor. “Na mineração, os geólogos e engenheiros usam múltiplos sistemas para cumprir processos – cada tarefa realizada num aplicativo diferente, sendo que as tarefas são concentradas em um processo só, para executar como um todo. Isso torna possível repetir a execução do processo, variando entradas para poder comparar resultados e selecionar a melhor opção”, explica o especialista. Segundo Jreige, a aplicação da automação de processo é relativamente fácil, orquestrada por um aplicativo utilizado pelo geólogo ou engenheiro de minas. “Normalmente leva poucos dias de treinamento, sendo que o usuário deve ter conhecimento dos aplicativos utilizados para as diferentes tarefas do processo”, observa. Entre as áreas em que o sistema da Dassault pode ser aplicado está o planejamento, em que é realizada a otimização dos parâmetros de sequenciamento de longo e médio prazo, que maximizam o valor de lavra; o dimensionamento de frota, com a identificação dos parâmetros de sequenciamento que minimizam a exigência de máquinas e veículos; e a estimativa de recurso, com automação do processo e otimização dos parâmetros geo
estatísticos.
A Dassault destaca dois de seus produtos voltados à mineração que afirma trazer maior agilidade para o planejamento das atividades, projeto e produção. Com Lean Mine Construction, as aplicações e os conhecimentos necessários estão disponíveis em uma plataforma para ajudar a assegurar que as minas sejam entregues a tempo e dentro do orçamento. Ele une as mineradoras aos seus terceirizados e parceiros em um ambiente colaborativo para infraestrutura e planejamento da planta de processamento, planejamento de projetos, aquisição e gestão da construção. Segundo a empresa, o sistema oferece melhor produtividade operacional na mineração por meio de simulação 4D e modelamento para identificar o layout correto da infraestrutura da mina e a capacidade de processamento da planta antes do início da construção. Diminui os custos e reduz os erros, permitindo um projeto modular da infraestrutura e dos componentes da planta, que podem ser testados e montados em um mundo virtual antes de a fabricação ser iniciada. Além disso, suporta ajustes rápidos dos projetos de engenharia, quando os requisitos mudam, facilita a entrega just-in-time dos componentes no local e reduz os custos por meio da integração do projeto de engenharia, sequenciamento de projetos e as tarefas de aquisição.
Já o Perfect Mine and Plant reduz a variabilidade por meio de sequenciamento e controle operacional otimizados, utiliza big data (megadados) para melhorar a produtividade, a eficiência e o controle de custos nas mineradoras e fornece os dados necessários para que a gerência alcance os resultados de produção previsíveis e cumpra as metas de produção. Além disso, quebra a divisão entre as etapas de mineração e processamento, e fornece capacidades de simulação e validação necessárias para permitir que as ideias inovadoras sejam exploradas e comprovadas antes de serem implementadas. “O objetivo da automação pode variar segundo as necessidades do usuário. O sistema pode ser configurado para otimizar valor do sequenciamento, minimizar o número de caminhões ou para obter os melhores parâmetros geoestatísticos para uma estimativa”, salienta Chawki Jreige.
Um dos casos de sucesso da aplicação da automação de processos pela Dassault ocorreu na mina Chelopech, da Dundee Precious Metals, na Bulgária. Segundo o vice-presidente executivo da Dundee, Rick Howes, o uso da tecnologia revolucionou a mina, revitalizando-a de forma significativa. “Nós partimos do pressuposto de que uma mina é um buraco escuro e ninguém sabe realmente o que está acontecendo lá em tempo real, porque não pode vê-la. O uso da tecnologia corrige isso”, diz Howes. Entre as ferramentas utilizadas para “ver” a mina, foram aplicadas em Chelopech redes de wifi de baixo custo, rastreamento sem fio para localizar pessoas e veículos, sistemas de software para mapeamento, modelagem, estimativas, design, programação, simulação e relatórios de gestão da produção das minas. Segundo Howes, a estimativa correta de custos é importante para uma boa avaliação do projeto. “A superestimativa de 20% de valores pode resultar em uma queda de mais de 20% no retorno líquido sobre o investimento”, adverte. Na mina Chelopech, a Dundee se propôs a dobrar a produção e reduzir os custos em 44%.
O projeto “Taking the lid off” foi desenvolvido para trazer visibilidade para a escuridão das minas subterrâneas e transformou o desempenho operacional da mina Chelopech. Para tanto, foi utilizado o software de gerenciamento de produção de mina Geovia Insite, da Dassault. Com a tecnologia, é possível, segundo o vice-presidente da Dundee, visualizar a mina continuamente em 3D. “Ao monitorar e intervir onde precisamos, buscando as medidas corretas do ponto de vista da produção, pudemos eliminar uma grande quantidade de perdas, como se vê em projetos de minas subterrâneas atualmente”, sublinha Rick Howes.
Segundo ele, a Dundee conseguiu alcançar as metas de desempenho propostas para a mina na Bulgária. A produção foi quadruplicada para cerca de dois milhões de toneladas por ano desde que a automação foi implantada, em 2013. “Nós ainda estamos trabalhando na fase final da implementação, mas a medida chave do sucesso é que nós não adicionamos nenhum equipamento novo para aumentar a produção de um milhão para dois milhões de toneladas. Foi simplesmente o resultado de melhorias operacionais”, afirma Howes. “A indústria de mineração está num ponto crítico em sua história, em que as empresas procuram ter lucros de forma mais sustentável. O caso da Dundee é um exemplo perfeito de como a automação e a inovação podem beneficiar a operação”, completa Chawki Jreige.
De acordo com Marcos Andrade, a Sodep conta com uma equipe especialista em economia e finanças com larga experiência em mineração, oferecendo estudo de viabilidade minucioso, no qual os números do cliente são colocados no papel, juntamente com os benefícios do sistema, a fim de apresentar o real ganho com os processos de automação, prevendo o prazo para retorno do investimento e sua viabilidade. “Cada módulo do sistema possui um payback mínimo que varia de acordo com o perfil da mina e a empresa garante que esse retorno de investimento não ultrapasse o período de um ano”, afirma o executivo, lembrando de um caso de sucesso da aplicação do sistema da Sodep. “Um dos cases de maior retorno foi o de uma mina de minério de ferro que implementou o Minetrack em janeiro de 2013 e com o ganho de produtividade obtido, que foi superior a 30%, conseguiu manter a receita em dólares até julho de 2014, mesmo com a queda da tonelada do minério de ferro de US$ 150 para US$ 90.”
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