Aumento proposto para os royalties dos minérios e a indefinição sobre o direito de prioridadena fase de pesquisa mineral são algumas das medidas que podem afugentarnovos aportes nos empreendimentos em curso
Por Guilherme Arruda
Se não bastasse o aumento dos custos de mão de obra e equipamentos e a desvalorização das principaiscommoditiesminerais, como ferro e ouro, o setor mineral, sobretudo, os investimentos das chamadasjunior companies,empresasde pequeno porte dedicadas à pesquisa e exploração mineral, podem ser prejudicados pela indefinição e demora na votação do marco regulatório da mineração no Congresso e seus pontos conflitantes, como aumento da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) e a extinção do atual sistema de direito de prioridade.
De acordo com especialistas do setor, asjunior companies,com fundos levantados na Bolsa de Valores de Toronto (TorontoStock Exchange, TSX) – líder mundial na captação de recursos para projetos de mineração, estão cada vez mais pressionadas pela alta competição do mercado e pela crescente exigência dos seus controladores e investidores por bons resultados. Neste cenário, elas priorizam aportes em mercados bem regulados, que incentivem e deem segurança à entrada de capital privado.
“Asjuniors, assim como todo o mercado, estão apreensivas sobre as novas regras do jogo propostas pelo governo brasileiro. Além da redução de competitividade relacionada ao aumento dosroyalties, a indefinição nas discussões sobre o tema no Congresso, pode deslocar o foco de recursos dos investidores para outros continentes ou até mesmo para países vizinhos”, afirma Paulo de Castro Reis, superintendente de Relações Institucionais e de Negócios da Câmarade ComércioBrasil-Canadá (CCBC).
De acordo com levantamento da TSX, 468 companhias de mineração, cotadas na bolsa de Toronto, levantaram US$ 963 milhões para o desenvolvimento de projetos minerários na América Latina em 2013. No Brasil, estão presentes 47 companhias, que investiram mais de US$ 330 milhões em pesquisa e exploração no ano passado.
“Um número expressivo de projetos de empresas canadenses foram colocados em operação nos últimos anos, contribuindo para a geração de emprego e renda. Entretanto, quanto aos novos empreendimentos, a insegurança jurídica e regulatória e a morosidade na definição do novo marco regulatório tem segurado os investimentos”, completou Castro Reis.
Custos de exploraçãoseguem em alta
De acordo com dados levantandos por Richard Schole, diretor da consultoria australiana especializada em mineração MinEX Consulting e professor da Universidade de Western Australia, na última década os custos de exploração mineral mais do que dobraram. Entre 2000 e 2009, uma descoberta de ouro, de médio porte, consumia, em média, US$ 77 milhões. Já entre 2010 e 2014, esse custo chegou a US$ 150 milhões por descoberta.
Os motivos para tal incremento, segundo Schole, foram os custos mais altos da mão de obra e equipamentos, maior dificuldade exploratória (depósitos mais profundos, que requerem tecnologias mais caras e avançadas) e diminuição das reservas de caixa das companhias.
Segundo a pesquisa, em 2000, o salário médio anual de um gerente de exploração no Canadá estava em torno de US$ 93.000. Já em 2012, esse valor saltou para US$ 170.000, um aumento de 83%.
Para os próximos anos, o estudo sugere que há a necessidade do desenvolvimento de novas ferramentas para o trabalho em grandes profundidades (abaixo de 150 m), além de dar continuidade à otimização das atividades, visando assim à redução dos riscos de exploração e aumento da probabilidade de descobertas de jazidas expressivas.
Projetos em curso
Dentre os projetos com capital canadense em desenvolvimento no País está o Volta Redonda, localizado em Altamira (PA) e pertencente à Belo Sun, empresa controlada pelo banco canadense Forbes & Manhattan. No projeto, considerado o maior empreendimento de mineração de ouro a céu aberto do País, ajuniorplaneja investir US$ 1,1 bilhão na extração e beneficiamento de ouro, com uma produção prevista de 4.684 kg por ano.
Outro projeto com participação da Forbes & Manhattan é o Cerrado Verde, em Minas Gerais. Nele, a Verde Potash pretende produzir, em uma primeira fase, 600 mil t de potássio. Posteriormente, o projeto tem potencial para produzir 3 milhões t anuais a partir de 2019, com um investimento total de R$ 6 bilhões. A vida útil da mina é estimada em 31 anos.
Também na área de insumos minerais para a produção de fertilizantes, a canadense MbAC Fertilizantes iniciou, no final de 2013, a operação de sua unidade de superfosfato simples (SSP) em Itafós (TO). A mina, que tem capacidade de 500 mil t por ano, deve fechar 2014 com 400 mil t de SSP produzidas. A companhia pretende também explorar óxido de terras-raras a partir de 2016 em Araxá (MG)
No mercado de terras-raras, a Canada Rare Earth Corp (CREC) firmou, no primeiro semestre deste ano, umajoint venturecom Mata Azul, visando à exploração de terras raras em Tocantins. Desta forma, a CREC vai comprar todos os concentrados produzidos pela empresa.As duas companhias ainda deverão construir uma nova refinaria com capacidade de produção de 6.000 t por ano de concentrados. Até o momento, o projeto recebeu investimentos de US$ 100 milhões para a realização de estudos de viabilidade econômica.
Em um grupo mais avançado se encontram as empresas canadenses de mineração de médio e grande portes, já consolidadas na indústria mineral brasileira, como é o caso da Kinross, Yamana, Jaguar Mining e Aura Minerals. Essas companhias, somada à sulafricana AngloGold Ashanti, respondem por cerca de 90% da extração brasileira de ouro.
Yamana
A mineradora canadense Yamana iniciou suas operações no Brasil em 2003. Na ocasião, a empresa, umajunior, valia menos de US$ 100 milhões e atualmente supera a casa dos bilhões de dólares. Este ano, a mineradora deve produzir em torno de 1,40 milhão de onças de ouro.
Atualmente, a empresa possui três unidades produtivas no Brasil: Jacobina, Chapada e Fazenda Brasileiro. A Jacobina Mineração e Comércio (JMC), localizada na cidade baiana de mesmo nome, começou a operar em 1982 e foi comprada pela Yamana em 2003. Em 2014, a unidade produtora de ouro deve alcançar uma movimentação total (ROM –Run of Mine+ estéril) de 1,4 milhão t, com investimentos de cerca de R$ 77 milhões. Dos principais projetos que receberam recursos estão o desenvolvimento da mina; atividades de sondagens em novas áreas; infraestrutura e gastos comRaise Boring(poços de ventilação).
Em Alto Horizonte (GO), onde está a mina Chapada, a previsão de produção da companhia, em 2014, é de 245.000 dmt (dry metrictonne) de concentrado de cobre e ouro. A unidade, que possui altos índices de eficiência produtiva, investiu R$ 230 milhões neste ano, sendo R$ 98 milhões em operações já existentes e R$ 132 milhões em novos projetos, como novas frentes de exploração e estudos de viabilidade e expansão.
Visando a dar continuidade aos níveis de produção da unidade, nos dois últimos anos (2013/2014), a mina Chapada adquiriu seis caminhões Caterpillar 777G; 1 escavadeira Liebheer 9250; 1 motoniveladora Caterpillar 16M; 1 trator de esteiras Caterpillar D-9, 1 pá carregadeira Caterpillar 993 e duas perfuratrizes Roc L08.
Por fim, a mina Fazenda Brasileiro, situada em Barrocas (BA), iniciou suas operações a céu aberto em 1984 e no subsolo em 1988. Em 2003, foi adquirida pela Yamana por meio da criação da Mineração Fazenda Brasileiro (MFB). Com 794 funcionários, a unidade investiu R$ 38 milhões em operações existentes e R$ 4,7 milhões na expansão de novos projetos, como nas atividades de sondagem de novos recursos para aumento de vida útil. Em 2014, a mina deve lavrar e processar no britador cerca de 1.153.726 t de concentrado.
Na área de programas ambientais e sociais, a MFB investiu R$ 3,3 milhões em 2014, com destaque para programa de restauração ambiental do ambiente de Caatinga, restauração de locais de preservação permanente nas cidades de Araci (BA), Teofilândia (BA) e Barrocas (BA) e realização da Semana do Meio Ambiente em escolas em diversos povoados.
Atualmente, a Yamana possui três projetos em desenvolvimento no País – Ernesto/Pau a Pique, Pilar e C1 Santa Luz. Com exceção de Santa Luz, que foi momentaneamente paralisado para a realização de novos estudos de viabilidade econômica, esses empreendimentos estão em fase de comissionamento e deverão entrar em operação comercial no próximos anos.
Kinross
Presente no País desde 1986, a Kinross iniciou, no ano seguinte, a operação na mina Morro do Ouro, localizada em Paracatu (MG). Composta por duas plantas, a unidade, com capacidade anual de 61.000.000 t, produziu 55.699.068 t (ROM –Run of Mineem toneladas) em 2013.
Com um total de 3.468 funcionários, sendo 1.380 próprios e 2.088 terceirizados, a companhia investiu, em 2013, mais de R$ 315 milhões na unidade. Os recursos foram direcionados para melhorias na barragem, aquisição de terras, implantação de tanques destinados ao recebimento de rejeitos e na aquisição de caminhões 793 CAT.
Houve também investimentos na implantação do sistema do laboratório químico e do sistema PIMS, Profibus e redundância de rede da automação e implantação do sistemaBusiness Intelligence, além da renovação de sistemas ehardwareda geologia.
Já a área ambiental e social da empresa recebeu aportes de R$ 45 milhões em 2013, com destaques para os investimentos para a criação do Parque Estadual em parceria com o Estado de Minas Gerais, Programa de Proteção de Nascentes, implementação do Centro de Reabilitação de Animais (CRA) e atividades de Educação Ambiental.
Jaguar Mining
Fundada em 2002, a Jaguar Mining possui três unidades em operação no País. As unidades de Turmalina, Roça Grande e Pilar devem fechar 2014 com material lavrado e processado no britador (ROM –Run of Mineem toneladas) de 491.070 t, 155.964 t e 450.207 t, respectivamente. Turmalina, a unidade mais antiga da compahia, iniciou sua operação em 2008. No ano seguinte, foi a vez de Pilar e em 2010 a de Roça Grande.
Em 2014, a unidade de Turmalina investiu R$ 3,45 milhões. A mineradora deu continuidade ao seu projeto de escavação de uma segunda rampa de acesso que ligará o Corpo C à superfície. Essa rampa está localizada próxima ao pátio de estoque de minério e reduzirá em 1,2 km a distância média de transporte. As obras devem ser concluídas em julho de 2015.
Aura Gold
O principal projeto da canadense Aura Minerals é a mina São Fransciso, distante 500 km de Cuiabá (MT), aproximadamente. Em 2010 e 2011, a companhia lavrou e processou 2,88 milhões t e 3,40 milhões t de minério, com produção de 36.277 e 56.286 onças de ouro, respectivamente.
Nos últimos dois anos, 2012 e 2013, a produção anual da companhia aumentou, aproximadamente, para 80 mil onças de ouro. Com tecnologias de aproveitamento e recuperação de minérios com baixos teores de ouro, a companhia objetiva aumentar seus indices produtivos gradativamente nos próximos anos.
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