Augusto Diniz
A mineração convive historicamente com rigorosas variações de demanda e oferta desde que se tornou atividade econômica.
Atualmente, depois de passar por um período de forte retração, o setor vive a expectativa de um novo ciclo de crescimento. E o World Mining Congress (WMC), em sua 24ª edição, a primeira a ser realizada no Brasil, deverá espelhar essa nova realidade.
George Hemingway, um dos principais estudiosos da indústria e um dos palestrantes do congresso que acontece no Rio de Janeiro, entre 18 e 21 de outubro, acredita que a inovação é a chave do sucesso nesse novo ciclo. Sócio e chefe da área de práticas inovadoras da empresa de consultoria de Nova York, Stratalis Consulting, avalia a importância da utilização de estratégias que fogem do tradicional e de técnicas inovadoras no ambiente industrial para contornar os desafios atuais. “É preciso ter visão de futuro para saber aplicar os investimentos”, diz.
Para Hemingway, o setor de mineração está prestes a passar por uma grande mudança: “Winston Churchill, um dos mais tradicionais políticos britânicos uma vez disse: ‘Nunca desperdice uma boa crise’. Não existem palavras mais verdadeiras e o valor delas para a mineração é grande.”
O consultor fala ainda da necessidade das mineradoras redirecionarem esforços para tecnologias que permitam a automação, a escalabilidade e a previsibilidade dentro do ambiente operacional e nos investimentos das organizações, para facilitar a construção de cenários previsíveis e modelos de negócios que ofereçam opções diversificadas. “Agindo dessa forma elas estarão preparadas para crescer em tempos
bons e para reagir aos tempos ruins. É preciso olhar para o futuro com flexibilidade e foco no presente”, afirma.
Magnus Ericsson, outro estudioso do futuro da mineração global, e que também é painelista do World Mining Congress no Rio, avalia que no longo prazo a previsão é excelente para o setor. “A demanda por metais está relacionada ao desenvolvimento econômico e à melhoria do padrão de vida de classes sociais mais baixas.
Esse processo está em andamento e vai continuar por no mínimo mais uma década, mesmo que seu ritmo de crescimento não acompanhe o dos últimos dez anos. Mesmo que os processos de reciclagem e reutilização aumentem, ainda haverá grande demanda por novas extrações de minerais”, avalia.
O professor e CEO da Raw Materials Group (RMG) aponta que existem quatro metais fundamentais para o desenvolvimento econômico global: ferro, cobre, fosfato e potássio.
Para ele, vários outros metais serão necessários nos próximos anos devido às propriedades específicas no campo da eletrônica e da tecnologia de ponta, mas o volume de metais mais raros será bem menor do que os quatro citados de alto valor relacionado à produção econômica.

IMPORTÂNCIA PARA O BRASIL

Evento inédito no Brasil, com a reunião de grandes especialistas mundiais no tema, apesar do País ter se posicionado há mais de uma década como um dos líderes na extração mineral no mundo, o congresso em solo brasileiro é uma oportunidade de troca de conhecimento na área. Rinaldo Mancin, coordenador técnico do evento e diretor de Assuntos Ambientais do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), entidade responsável pela organização do congresso, explica que o encontro “será uma excelente oportunidade para implantar uma rede mundial de intercâmbio de informações relacionadas à inovação na mineração, tecnologia, economia, saúde e segurança nas operações de mineração e proteção ambiental”.
Ele acrescenta ainda que o evento poderá ser uma ótima oportunidade de desfazer a imagem negativa provocada pela tragédia de Mariana (MG), no ano passado, quando uma barragem de rejeitos se rompeu, provocando inundações e forte impacto ambiental.
De acordo com Rinaldi, o congresso tradicionalmente tem foco científico e nesta edição, foram recebidos 400 trabalhos de todo o mundo, sendo que uma parte será apresentada no evento. Destaca-se que durante a tarde o congresso é dedicada à apresentação desse tipo de trabalho, e as manhãs às discussões envolvem questões macro atuais do setor.
Neste último caso, o coordenador técnico do encontro cita alguns painéis relevantes, como de segurança de barragens, com apresentação do Canadá, a maior escola do mundo de gestão desse tipo de estrutura; tecnologia com especialistas da Suécia, país que possui grande desenvolvimento nessa
área; e novos materiais minerais.

PAINÉIS RELEVANTES

“A experiência do Canadá com o manejo e gestão de barragens de rejeitos de mineração é mundialmente conhecida como uma das melhores da atualidade”, conta Rinaldo. “Isso teve início após alguns acidentes verificados naquele país, que levaram a uma tomada de consciência coletiva do setor mineral, movimento que foi liderado pela Mining Association of Canadá (MAC) e que trouxe um cenário de auto-regulamentação para o setor mineral”.
O especialista relata que este movimento no Canadá começou em 2004, com a implantação de uma iniciativa pioneira de construção de novos valores de reputação e imagem pública do setor mineral, denominada Towards for Sustainable Mining (Rumo à Mineração Sustentável). Parte importante da estratégia foi a adoção de boas práticas para gestão de barragens, tornando-se referência no setor.
“Merece destaque a elevada preocupação do setor mineral canadense, tanto governamental como do privado, com a gestão do conhecimento e o aprendizado contínuo, especialmente a partir dos casos de acidentes”, esclarece Rinaldo.
Sobre papel dos suecos no desenvolvimento da tecnologia de mineração, o coordenador diz que a mineração mundial deve muito aos suecos e “poucos se dão conta disto”.
Segundo ele, muitos dos minerais hoje conhecidos foram identificados naquele país.
“A pujança da mineração na Suécia fomentou, ao longo de dois séculos, o desenvolvimento de uma importante indústria de conhecimento e de tecnologia associada ao setor. Assim, as universidades suecas dedicadas à mineração são de excelência global, como também os fabricantes suecos de tecnologia e suprimentos para a área”, analisa.