A suspensão das atividades das mineradoras em Corumbá (MS) foi uma ducha de água fria no ânimo dos corumbaenses, que vislumbravam boas perspectivas com a chegada da MMX e os R$ 2 bilhões projetados pela Rio Tinto para ampliar sua mina. “Corumbá tem 230 anos e agora que a gente achou que ia ter desenvolvimento, vem esse baque”, sintetizou Margareth da Conceição, dona de um bar no Porto Geral, área histórica da cidade, com seu casario colonial às margens do rio Paraguai. Calcula-se que 20% dos 100 mil moradores de Corumbá dependam de alguma forma das mineradoras.

“Passei o ano inteiro contratando gente a agora tenho que demitir”, lamentou o funcionário de uma mineradora, responsável pelas rescisões contratuais dos demitidos da semana passada. Tal confiança no futuro levou o cozinheiro Alessandro Egues a adquirir sua primeira moto, em meados do ano, em 36 prestações de R$ 250. Foi demitido há duas semanas e ainda tem 30 boletos no carnê. “Acho que vou pegar a moto e começar a trabalhar de mototáxi. Dá uns R$ 15 por noite”, disse.

A onda de notícias ruins virou uma tsunami na semana passada, quando o comando da Rio Tinto, a única das grandes ainda em operação, anunciou que vai demitir 14 mil em todo o mundo e rever investimentos. A companhia não informa os impactos no Brasil e diz que as demissões da semana passada não fazem parte do pacote. Todo fim de ano, a empresa concede férias coletivas por causa da impossibilidade de transportar a produção de minério pelo leito seco do rio Paraguai.

Agora, não há certeza de que todos voltarão ao trabalho após as chuvas. Os corumbaenses concordam que a crise não poderia ter vindo em pior hora. Além da seca, é época de piracema na bacia do Paraguai, quando a pesca esportiva é proibida e o turista some.
“Essa época, o dinheiro é curto”, diz o guia de pesca Edson Souza.

Como a maioria dos trabalhadores do setor, ele passa as tardes de verão em ritmo lento à beira do rio.
Durante quatro meses, seu único trabalho será pintar o barco em que trabalha. Nesse período, os empregados que têm carteira assinada ganham seguro-desemprego em valor equivalente à metade do salário. Quem não tem, procura bicos para se manter.

O período é ruim também para o setor de serviços e taxistas. “Vou ter de esperar virar o ano para procurar alguma coisa. Agora não tem emprego”, diz um mecânico que trabalhava na Vale, demitido na semana passada. Com uma filha de um ano, ele acredita que consegue se virar por alguns meses com o dinheiro da rescisão.

Um amigo, que está de férias, ouviu a conversa e decidiu ir à Delegacia do Trabalho para saber quanto receberia se tivesse o mesmo destino. “É para ver se fico feliz ou triste na hora que receber a carta”, brincou.


Fonte: Padrão