A economia mais aberta da América Latina terá um crescimento menor em 2009 e sofrerá com a diminuição da demanda externa e dos preços de seu principal item de exportação: o cobre. Ainda assim, o Chile deve encarar a crise financeira global em melhor forma que outros países da região, prevêem analistas e autoridades.

Em tempos de desaceleração, o país exibe pelo menos duas grandes virtudes: um setor financeiro saudável e um diversificação de parceiros comerciais, diferentemente de alguns vizinhos que dependem fortemente dos humores dos consumidores americanos. O país tem nove TLCs (tratados de livre comércio) em vigor – incluindo com China, EUA e Canadá. Nenhuma outro país latino-americano tem tantos TLCs.

"Optamos por uma abertura diversificada para aumentar nossa autonomia e diminuir os riscos de uma vinculação excessiva com um país, como os EUA, por exemplo", disse o embaixador do Chile no Brasil, Alvaro Díaz, ex-sub secretário de Economia de Ricardo Lagos.

Enquanto o México, por exemplo, concentra quase todas suas exportações nos EUA, o Chile criou várias cestas para seus ovos. Dados de agosto mostram que China é o principal destino das exportações chilenas (13,6%), seguida pelos EUA (11%), Japão (9,9%), Holanda (6,2%), Coréia do Sul (5,9%) e Brasil (5,5%). Essa pulverização tende a aliviar e a compensar as desacelerações americanas e européia.

A outra virtude aparece no lado financeiro. O país tem superávit fiscal de 6,5% do PIB, dívida pública baixa, de cerca de US$ 3 bilhões, e um colchão denso formado por dois fundos soberanos de US$ 23 bilhões. Os bancos chilenos por seu lado, diz o governo, não guardam ativos podres, financiamentos comprometidos ou carteiras de modo geral muito problemáticas.

Mas nos últimos dias a Bolsa de Santiago experimentou a sensação da queda livre, com o dólar disparado: em abril a moeda americana valia 430 pesos; ontem, bateu os 595 pesos. Os problemas, entretanto, não estão aí. "A vulnerabilidade é a exposição ao cobre", resume Alberto Ramos, economista da Goldman Sachs para mercados emergentes nas Américas.

Das receitas obtidas com as exportações, 55% advêm do cobre. E 38% do PIB chileno depende das vendas do metal. Além do cobre, as frutas, o salmão, a celulose e o vinho compõem praticamente toda a pauta exportadora chilena.

A redução da demanda do metal por parte das principais economias do mundo e a depreciação da cotação – já em curso – que contribuirão de modo mais claro para que o Chile reduza de marcha no ano que vem. O país que em média cresceu 5,3% entre 1990 e 2007 deve, de acordo com a projeção otimista do governo, avançar 4%.

Analistas falam em 3% ou 2% – e alguns em menos que 2%. “Haverá sim uma redução na demanda externa e uma menor capacidade de crescimento", avalia Rosanna Costa, diretora de programas econômicos do Instituto Libertad y Desarollo. Mas ela reitera o aparente consenso de que "confortável situação fiscal" do Chile o coloca num patamar mais confortável que outros países da região.

Em setembro, com a redução da produção do metal e a aceleração das importações, o Chile teve seu primeiro déficit comercial em seis anos. Parte do aumento nas importações, diz Ramos, se deve ao crescimento das compras de diesel para termelétricas, necessárias para compensar um período de seca e de fornecimento de gás da Argentina. Energia deve continuar um grande problema no país.
Fonte: Padrão