Longe de diminuir, a demanda global por carvão tem se mantido estável em níveis recordes na última década. E, caso os países não tomem atitudes drásticas urgentes, o mundo não conseguirá limitar o aquecimento global a 1,5% neste século, como prevê o Acordo de Paris. Para tanto, seria necessário diminuir o uso dessa fonte fóssil em 90% nas próximas três décadas. No entanto, em 2021 houve crescimento de 6% e, no passado, próximo de 2%.
O alerta está no relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), de novembro de 2022, que trouxe um panorama dos países que mais utilizam o carvão mineral como fonte energética.
“Embora haja um impulso encorajador para a expansão da energia limpa nas respostas políticas de muitos governos à atual crise energética, um grande problema não resolvido é como lidar com a enorme quantidade de ativos de carvão existentes em todo o mundo”, disse o diretor da agência, Fatih Birol.
Segundo IEA, o carvão é a maior fonte de emissões de CO2 de energia e a maior fonte de geração de eletricidade em todo o mundo. Indonésia, Mongólia, China, Vietnã, Índia e África do Sul se destacam no novo Índice de Exposição de Transição de Carvão da IEA como os países onde a alta dependência do combustível fóssil torna a transição mais difícil. Neles, conforme a agência, será essencial desenvolver uma série de abordagens adaptadas às circunstâncias nacionais.
Na Europa, a demanda de carvão na Europa, que responde por 5% do consumo mundial, tem aumentado no setor elétrico: o carvão é cada vez mais utilizado para substituir o gás russo, após o início da guerra na Ucrânia.
Existem hoje 9 mil usinas a carvão em todo o mundo, representando 2.185 gigawatts (GW) de capacidade. O perfil de idade varia de acordo com a região, de uma média de mais de 40 anos nos Estados Unidos a menos de 15 anos em economias em desenvolvimento na Ásia.
“As transições de carvão são complicadas pela idade relativamente jovem das usinas de carvão em grande parte da região da Ásia-Pacífico”, aponta o relatório.
Cenários
Em um cenário em que as atuais promessas climáticas nacionais sejam cumpridas no prazo e na íntegra, a produção das usinas a carvão ininterruptas existentes cairiam cerca de um terço entre 2021 e 2030, com 75% substituídas por energia solar e eólica.
“Esse declínio na produção de carvão é ainda mais acentuado em um cenário consistente em atingir emissões líquidas zero até 2050 e limitar o aquecimento global a 1,5 °C. No Cenário Net Zero até 2050, o uso de carvão cai 90% até meados do século”, observa o relatório.
Carvão mineral é o nó das negociações climáticas do G-7
Apesar de se comprometerem com metas importantes para a transição energética, membros do G-7 ainda não conseguiram consenso a respeito de uma fonte energética específica: o carvão mineral. O G-7 inclui os sete países mais ricos do mundo e esteve reunido em Saporo, no Japão, para debater sobre as politicas climática, energética e ambiental.
Os representantes desse grupo firmaram compromisso para aumentar, juntos, a capacidade de geração offshore de energia eólica em 150 gigawatts até 2030. Para a energia solar, e meta é elevar capacidade de geração para mais de 1 terawatt. E também bateram o martelo no prazo de 2050 para construir sistemas de energia que tenham emissões neutras.
O nó das negociações ficou por conta do carvão mineral. O Canadá propôs 2030 como prazo limite para o fim do uso desse combustível, que é fóssil. Foi apoiado por alguns países, como Reino Unido.
Mas o ministro da Indústria do Japão, Yasutoshi Nishimura, argumentou que é necessário garantir a segurança energética ao mesmo tempo em que se enfrentam as mudanças climáticas, uma vez que o mundo está em uma “crise energética sem precedentes”. O país depende de importações de energia, por isso pretende usar gás natural liquefeito (GNL) ainda por pelo menos 10 a 15 anos.
O acordo “possível” foi o seguinte: adotar medidas concretas e oportunas para acelerar a eliminação da “geração interna e ininterrupta de energia a carvão”. No ano passado, foi firmado um pacto de alcançar pelo menos um setor de energia “predominantemente” descarbonizado até 2035.
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