Em dois meses e meio, o setor siderúrgico passou de um cenário mundial de escassez de oferta para o outro extremo, de excesso de aço e retração da demanda.
Resultado inevitável: revisão e eventual suspensão de investimentos do setor. No Brasil, entraram automaticamente na geladeira projetos avaliados em US$ 13 bilhões, com planos de efetivação a partir de 2010, e que representariam aumento de capacidade de produção de aço em 16,5 milhões de toneladas. Segundo avaliação do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) estes investimentos, tidos como certos até o início da crise, estão ameaçados.

“Em função do que tivermos pela frente, há possibilidade de mexer em tudo. A questão é que 2009 virou um grande ponto de interrogação. Há um grau de preocupação das empresas em relação ao nível de desaceleração. Se estamos numa situação em que não há mercado, aumentar a produção para vender para quem?”, indaga o vice-presidente executivo do IBS, Marlo Polo de Mello Lopes.

Segundo Lopes, os investimentos no País estavam divididos em três grandes etapas: a primeira, de expansão do parque industrial em 18,9 milhões de toneladas/ano, orçada em US$ 39,9 bilhões, já foi iniciada, e já teve grande parte dos investimentos feitos, mas outros podem ser alongados; a segunda, de US$ 5,8 bilhões, referia-se a novos entrantes no mercado, a partir de 2010 (neste caso está a Companhia Siderúrgica do Atlântico, em fase de construção de coqueria), e a terceira, de US$ 13 bilhões, dos projetos em estudos, para ampliar em 16,5 milhões a produção de aço nacional, que estão sendo reavaliados.

Diante da reversão de cenário, o projeto da Vale de participar da criação de uma rede de siderúrgicas no País tem enfrentado reveses que vão desde o adiamento da conclusão de usinas, como a CSA, à um reexame da viabilidade dos projetos. A mineradora havia divulgado estudos de parceria em novas siderúrgicas no Espírito Santo, Pará e Ceará, além da que está sendo construída no Rio, em parceria com a alemã Thyssenkrupp. No caso da usina de US$ 5 bilhões em Anchieta, no Espírito Santo, o projeto foi indeferido este mês, por avaliação de órgãos ambientais.

Usiminas, ArcelorMittal (ex-CST), Açominas/Gerdau e Arcelor Longos (ex-Belgo Mineira) anunciaram nas últimas semanas antecipação de paradas de altos-fornos para manutenção. A medida, periodicamente necessária na indústria de aço, suspende produção nos altos-fornos por dois meses, em média. A Gerdau Açominas vai parar o alto-forno 1 do próximo dia 15 até 15 de março de 2009. Com isso, a produção de ferro gusa da siderúrgica será reduzida em 720 mil toneladas, o equivalente a 16% da sua produção anual.
A CSN informou que não realizou nem pretende fazer paradas para manutenção.

A Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), projeto liderado pela alemã ThyssenKrupp com 10% de participação da Vale, teve seu plano de investimentos e cronograma alterado por duas vezes. Na última, em agosto, ficou definido que o investimento passaria a 4,5 bilhões de euros, diante de iniciais 3 bilhões de euros. A conclusão das obras, por sua vez, passou para dezembro de 2009.
Fonte: Padrão