Com o slogan “60 anos e contando”, a Voith, empresa de tecnologia com atuação global, divulgou que suas estratégias para os próximos anos estão voltadas em atender as demandas da transição energética. Com o tema “Tecnologias sustentáveis para gerações futuras”, a multinacional alemã apresentou seu planejamento e lançamentos durante um encontro com jornalistas que visitaram a fábrica no Brasil, localizada no bairro do Jaraguá, em São Paulo. Além da coletiva, a visita aconteceu nas instalações das três divisões do Grupo Voith: Voith Paper, que atua no setor de papel e celulose; Voith Hydro, especializada no setor de hidrogeração; e a Voith Turbo, tecnologia de acionamento inteligente para o setor industrial e soluções para meios de transporte de passageiros e carga.

De olho nas necessidades do mercado para a modernização e redução da emissão de poluentes, a empresa anunciou os próximos passos. “Vamos investir R$ 5 milhões de reais para repotencializar a área de testes na Voith Turbo (setor industrial e meios de transporte); na Paper, vamos trabalhar para implantar novas tecnologias para atender a indústria de celulose, e, na Hydro, como existem vários novos projetos, leilões e também o aumento do consumo de energia, provavelmente vamos dobrar a eficiência operacional para atendimento às usinas hidrelétricas e fazer um balanceamento entre eólica, solar e hidrelétrica. Contudo, não vamos fazer uma ampliação física, mas sim aumentar a capacidade operacional”, afirmou Harald Egenrieder, presidente e CFO da Voith Turbo América do Sul.

Indústrias, offshore e mobilidade menos poluentes

No caso do segmento Óleo e Gás, dentre diversos acoplamentos e outras tecnologias para o sistema offshore, a empresa destacou o Vorecon, um acionamento de velocidade variável para substituir turbinas a gás, que controla com precisão a velocidade de compressores e bombas.. A aplicação do Vorecon é a solução que vai dar o controle nas plataformas e que já acontece, inclusive com o retrofit de sistemas que já estão operando para que seja diminuída a emissão de gases”, contou Vitor Monteiro, diretor do Setor Industrial Brasil (Mineração, Petróleo e Gás, Siderurgia e Energia), mencionando que o Vorecon já está no processo de re-injeção de CO2 nas plataformas de petróleo off-shore da Petrobras.

Em mobilidade, o foco são os produtos para eletrificação dos veículos comerciais. Durante a visita, a empresa destacou o Voith Electrical Drive System (VEDS) que é um sistema de acionamento elétrico para caminhões e ônibus e o DIWA NXT, uma tecnologia híbrida de transmissão automática para ônibus, que ainda está na fase piloto, mas que, segundo a Voith apresenta mais de 15% de economia de combustível.

“Nesse momento, já temos o VEDS sendo regularmente fornecido na Europa, principalmente no Reino Unido. O mais importante é que consigamos descolar o lado técnico do lado político. Com a transmissão automática, a gente cria uma solução mais abrangente e imediata. Para a tração elétrica, teremos que esperar um pouco, porque todos os veículos que estão sendo colocados no mercado hoje ainda não possuem a melhor configuração técnica, ou seja, a maioria ainda está com sua quantidade de baterias elevada para garantir autonomia necessária. Mas todas as montadoras estão buscando se adaptar. Já na Europa, estamos na terceira onda de eletrificação, que é a fase de reduzir a quantidade de baterias”, explicou Rogerio Pires, diretor da Divisão de Veículos Comerciais América do Sul.

Para os veículos ferroviários, a Voith Turbo destacou os engates como “carro-chefe”, mas com acoplamento automático digital para trens. Desses modelos para vagões de cargas, a empresa mostrou o CargoFlex como principal solução digital. Em visita à fabricação de peças para o setor ferroviário, também foi apresentado todo o processo de produção de eixos para a Alstom, com uma média de 150 montagens por mês. Os eixos são exportados para Santiago, Taiwan e Romênia.

Mineração com IA


Além dos acoplamentos hidrodinâmicos e motores elétricos, a Turbo falou sobre os sensores com uso da inteligência artificial para detectar ocorrências em correias transportadoras. Durante a coletiva, a multinacional alemã destacou os produtos em desenvolvimento no Brasil, mas que já são aplicados em outros países.

“No quesito de sensores, estamos estudando o monitoramento de cavaletes de roletes, para verificar o superaquecimento e evitar o incêndio de correias transportadoras. E tem também um outro produto chamado Eric, que é um algoritmo baseado em inteligência artificial, onde a gente modela o transportador como um todo, dividindo ele em seções – porque o foco são as transportadoras de longa distância, acima de 5 km – para detectar se alguma região da correia está tendo um consumo de energia acima do normal”, explicou Vitor.

Segundo o diretor, hoje existe um Eric instalado no Chile e um na Alemanha, na RWE. “Para o Brasil, estamos em tratativas com a Vale para promover serviços de consultoria, e, se acharem viável, no futuro, instalar um Eric.

Energia renovável

Responsável pela modernização da Usina Hidrelétrica Paulo Afonso II, que está em operação desde 1961, na Bahia, sob concessão da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), a Voith disse que 60% da energia gerada no mundo é proveniente de hidrelétricas, e que, 25% dessa geração, provêm de usinas equipadas por ela. “Existe a possibilidade de se fazer um repotenciamento das usinas já existentes, é uma tendência. O problema é que para aprovar uma nova hidrelétrica ainda é difícil, mas existe um potencial grande de aumentar a geração sem precisar fazer novas barragens”, complementou Egenrieder.

Fornecedora desde as primeiras turbinas para a Usina de Itaipu em 1987, as tecnologias para a maior Usina Reversível da Austrália, a Snowy 2.0, em 2019, a Voith Hydro fabrica equipamentos completos e componentes. Em visita à fábrica paulista, foram apresentados por exemplo os geradores eólicos de 20 toneladas para a empresa Vestas do Brasil, as peças de até 60 toneladas como as tampas das turbinas da Usina de Porto Colômbia, localizada entre os municípios de Planura (MG) e Guaíra (SP), e os fornecimentos para a Usina de Paulo Afonso, que demora cerca de 40 dias para chegar à Bahia, devido à dimensão, peso e translado das turbinas e componentes.


Sobre o hidrogênio, conhecido como uma das principais fontes de energia do futuro, que pode ser usado como combustível em motores ou gerar eletricidade em células a combustível, a Voith informou que já está fornecendo tanques embarcados, com válvulas e todo o sistema de controle, a partir de desenvolvimento feito a partir da fibra de carbono. “Descobrimos que podíamos usar para tanques de alta pressão, porém é preciso muito cuidado. Nós já temos uma equipe específica para essa questão do hidrogênio, que com certeza é uma fonte de energia interessante, e tem demanda para outras indústrias, muito maiores que a de transportes, onde com certeza teremos facilidade. Aliás, o Brasil tem muito potencial para o hidrogênio verde”, explicou Harald Egenrieder.