País com longa tradição na exploração de minérios, especialmente o cobre, o Chile tem atraído o apetite de investidores mundiais por abrigar 68% das reservas de lítio do planeta. Também chamado de “ouro branco” ou “petróleo branco”, o mineral é cada vez mais cobiçado por ser a principal matéria-prima para a fabricação de baterias recarregáveis para carros elétricos.
Com a demanda crescente por fontes de energia alternativas aos combustíveis fósseis, especialmente na indústrias automobilística, o Chile se tornou protagonista nessa corrida. Internamente, porém, o país enfrenta dificuldades para lidar com esse contexto, pois a exploração do mineral no Deserto de Atacama enfrenta forte resistência de ambientalistas.
No dia 12 de janeiro, o governo chileno tentou dar um passo à frente nessa corrida, ao licitar duas cotas para a exploração de reservas de lítio, equivalente a 3,6% das jazidas do país. Duas empresas – BYD Chile SpA (chinesa) e Servicios y Operaciones Mineras del Norte S.A. (chilena) – venceram com o preço de US$ 121 milhões para uma cota de 80 mil toneladas cada uma. Elas teriam sete anos para realizar a pesquisa geológica, os estudos e o desenvolvimento do projeto, e mais 20 anos para a exploração do metal leve.
Como é tradição em todos os capítulos dessa história, a licitação não esteve livre de polêmicas, e acabou sendo suspensa pela Corte de Apelações de Copiapó, na região de Atacama. A ação, apresentada pelo governo local, alegou que a concessão descumpre a Constituição e as jazidas se encontram em uma área importante para o turismo.
Ficaram de fora do certame três empresas interessadas, entre elas as maiores exploradoras mundiais de lítio, a chilena Sociedad Química y Minera de Chile (SQM), que fornece 17% do metal no mundo, e a americana Albemarle, que produz 19%.
Além disso, a licitação foi criticada por ter ocorrido a três meses do fim do mandato do presidente Sebastián Piñera, cujo candidato foi derrotado por Gabriel Boric, apoiado por partidos da esquerda.
O Ministério de Minas chileno deixou bem claros seus objetivos de alçar novamente o Chile ao topo da produção mundial de lítio, posição que perdeu em 2016 para a Austrália. De acordo com a Bloomberg, 57 empresas demonstraram interesse em explorar lítio no Chile. Mas, segundo especialistas, as incertezas políticas podem atrapalhar esse mercado. O país terá uma nova Constituição elaborada este ano e o tema será um dos principais nós da futura carga magna.
Alguns projetos em andamento no Chile
O último relatório “Investimento na Mineração Chilena – Portfólio de Projetos 2018 a 2027, divulgado no ano passado pela Cochilco, o Chile pode ofertar ao mundo180.400 toneladas de carbonato de lítio e 35.100 toneladas de hidróxido de lítio até 2028. Dessa produção total, 73% e 74% da nova produção de carbonato e hidróxido de lítio, respectivamente, virá da empresa SQM.
Uma das interessadas nesse mercado é norte-americana Albemarle, que efetuou Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para a construção, na região de Antofagasta, de uma planta de carbonato de lítio com capacidade de produção estimada de 42.500 toneladas por ano. O Projeto “Mejillones Lithium Carbonate” representa um investimento de US$ 583 milhões.
Segundo executivos da empresa, para atingir a produção, serão processados cerca de 130 mil metros cúbicos de salmoura do Salar de Atacama. A Albemarle aperfeiçoou um processo para melhorar a eficiência da recuperação do mineral, passando de 83,5% para 88,5%. Estima-se que para a construção da planta – que deve durar 2 anos e meio – serão necessários até 1.400 trabalhadores, enquanto a operação demandará 320 funcionários.
Atualmente, a Albemarle opera plantas: a Usina Salar de Atacama, localizada no coração do deserto de mesmo nome, e a Usina Química La Negra, a 27 quilômetros da cidade de Antofagasta. Neste último, o lítio é processado e são geradas mais de 100 especificações diferentes, para satisfazer as especificações de clientes em todo o mundo.
Segundo especialistas do setor, o Salar de Atacama contém as maiores e melhores reservas deste mineral no mundo. As salmouras aqui têm altas concentrações de lítio, o que é uma vantagem competitiva significativa em relação a outras regiões do mundo. Soma-se a isso o baixo custo de processamento, devido à boa distribuição de íons. Da mesma forma, possui excelentes taxas de evaporação e permite operar durante todo o ano devido às condições climáticas excepcionais. Tudo isso, aliado à proximidade dos portos, colocam o Salar de Atacama em posição competitiva invejável.
Outro projeto em curso é da Minera Salar Blanco, empresa controlada por capital australiano que iniciou estudo de uma área no salar de Maricunga. A companhia busca produzir até 20.000 toneladas de lítio por ano e cerca de 58.000 toneladas de cloreto de potássio. O valor do investimento é de US$ 527 milhões. A vida útil do depósito é estimado em cerca de 24 anos e sua construção exigirá até 1.200 trabalhadores.
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