Agencia Nacional de Mineração registra 110 minas ativas de calcário no País; Abracal informa produção de 15 milhões t em 2016

Foi na década de 1940 (pós-guerra) que se inicia a modernização de processos agrícolas e, por volta de 1960, surge o termo “Revolução Verde” que se traduz por aumento de produtividade agrícola com utilização de sementes modificadas, fertilizantes químicos, pesticidas e máquinas (em outras palavras: AGRONEGÓCIO). Nesse período de pesquisas e desenvolvimento, destaca-se os resultados de Norman Borlaug, um engenheiro agrônomo americano que desenvolveu as primeiras sementes modificadas de milho e trigo resistentes a pragas no México (com suporte financeiro da Fundação Rockfeller). Foi nesse ano que o governo militar brasileiro implantou a EMBRAPA para desenvolver técnicas agrícolas, visando a utilizar as áreas do cerrado brasileiro para a produção de grãos com foco no mercado externo.

A ideia por traz do Agronegócio é muito bonita: “produzir mais alimento por unidade de área plantada”. Isso poupa o meio ambiente e mata a fome de mais gente. O desafio é equilibrar produção e ecossistemas implementando-se rotinas para produção de alimentos socialmente sustentáveis. Esse é um assunto estratégico e, por sua importância, deve ser enfrentado com sabedoria porque a população precisa se alimentar (comendo bem ou mal). Se a população no planeta, hoje, beira a 8 bilhões (seremos 10 bilhões em 2050 segundo projeções da ONU) e, admitindo-se que o consumo médio de alimento/dia por pessoa seja de 1 Kg, então, amanhã o planeta deverá produzir 8 bilhões de toneladas de alimento para atender a essa demanda.

Porque o bioma cerrado é tão importante nesse cenário e, também, qual é a função do calcário agrícola nesse contexto?  Os solos dos cerrados são caracteristicamente ácidos (pH < 6) e esse parâmetro afeta a disponibilidade de nutrientes importantes para o desenvolvimento de culturas (Figura 1).

A faixa de pH de solo adequada para a maioria das culturas fica no intervalo entre 6 e 6,5. Como se observa, alumínio, ferro, cobre, manganês e zinco tendem a diminuir sua disponibilidade na medida em que o pH do solo aumenta (diminui a acidez) e, por outro lado, a disponibilidade do fósforo percorre caminho inverso.

A utilização de calcário (calagem) eleva o pH do solo (diminui a acidez), promovendo uma diminuição na disponibilidade de alumínio (Al+3) e um aumento na disponibilidade do fósforo (aplicados com adubação NPK), o que significa melhor produtividade agrícola.

O tipo de calcário (calcítico ou dolomítico) a ser utilizado é determinado por resultados de análises geoquímicas de solo. Porém, independentemente do tipo de calcário a ser utilizado, os parâmetros essenciais a serem considerados são (i) o Poder de Neutralização (PN) que deve ser superior a 80% e (ii) a granulometria do produto que deve estar entre 100 e 400 mesh.

A Figura 2 informa a distribuição do Bioma Cerrado no Brasil (com área total de 218,6 milhões de hectares) com destaque para as Fronteiras Agrícolas do Centro-Oeste (99,6 milhões de hectares) e Matopiba (73,5 milhões de hectares) conforme dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

No contexto das Fronteiras Agrícolas, uma tentativa de estimar áreas de cerrado desmatadas – utilizando-se imagens de satélite integradas com dados de topografia (modelo digital de terreno) em ambiente GIS – permite projeções (conservadoras) totalizando 63,9 milhões de hectares, sendo (i) Fronteira Agrícola do CENTRO-OESTE com área de cerrado desmatado estimada de 49,8 milhões de hectares e (ii) Fronteira Agrícola do MATOPIBA com área de cerrado desmatado estimada em 14,1 milhões hectares.

A ABRACAL (Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola), num cenário de baixo consumo, recomenda a aplicação de 1 a 1,5 t/ano de calcário (por hectare) para correção/manutenção de solos do cerrado ocupados pelo Agronegócio, o que representa estimativas preliminares de demanda de calcário agrícola entre 63,9 e 95,8 milhões de t/ano.

Dados publicados pela ABRACAL-MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), a produção de calcário agrícola  em 2016 foi de 15 milhões t .

Legenda da Fig. 3(publicar em duas colunas) — Uma análise de dados disponibilizados pelo SIGMINE/ANM (ex-DNPM) revela: (i) 63 minas ativas de calcário no Regime de Concessão de Lavra e (ii) 47 minas ativas de calcário no Regime de Licenciamento

Se esses dados são aceitáveis, existem demandas de calcário agrícola da ordem de 64 milhões t/ano (com base nas estimativas de áreas de cerrado desmatado e a recomendação da ABRACAL para aplicação de 1 t de calcário agrícola por hectare/ano). Por outro lado, se a produção de calcário agrícola contabilizada pela ABRACAL (2016) é de 15 milhões t, então, há um déficit potencializado de calcário agrícola da ordem de 49 milhões t/ano.

Existem terrenos geológicos prospectivos (nas Fronteiras do Agronegócio) para justificar decisões de investimentos em Programas de Exploração orientados para rastrear calcário agrícola com chance de sucesso? A Figura 3 indica algumas sugestões.

Não é muito difícil perceber que uma grande oportunidade está passando por debaixo de nosso nariz e um bom sinal disso é uma notícia publicada pela revista “O Empreiteiro” com a informação: “Votorantim Cimentos investe R$ 200 mi em calcário agrícola” (https://revistaoe.com.br/votorantim-cimentos-investe/).

Oportunidades à vista para grandes e pequenos empreendedores que tenham times de exploração treinados e comprometidos com a qualidade das informações, para embasar decisões de investimento.

Vitor Mirim, Geólogo