Lítio e tântalo
Duas antigas barragens de mineração, desativadas desde 2018, vão se transformar em novas minas para a produção do valioso lítio, o metal com que são feitas as melhores baterias atualmente no mercado.
As duas barragens foram criadas durante a mineração do também valioso mineral tântalo, usado em componentes eletrônicos – principalmente capacitores -, superligas metálicas para a indústria aeroespacial e ligas duras resistentes à corrosão – o Brasil é o principal produtor de tântalo do mundo, com cerca de 23% da produção mundial.
Diversos outros elementos ocorrem em associação nos minérios de tântalo, incluindo o lítio. A AMG Mineração S.A. decidiu extrair o lítio contido no rejeito porque ambas as barragens são do tipo a montante, que foram proibidas no Brasil pela Agência Nacional de Mineração (ANM) depois dos rompimentos das barragens em Brumadinho e Mariana.
Está prevista a produção de 90 mil toneladas por ano do concentrado de lítio. Todo o material extraído nos três primeiros anos já está negociado com empresas da China, o que resultará no aumento em 10 vezes da produção nacional de concentrado de lítio, insumo considerado de alto valor agregado e de crescente demanda internacional.
“É emblemático para o Brasil. Hoje o país produz 9 mil toneladas de concentrado de lítio por ano. Esse projeto multiplica por dez a capacidade de produção do Brasil de concentrado de lítio. O projeto passa a produzir 90 mil toneladas por ano e isso insere o Brasil como fornecedor relevante nessa cadeia de alto valor,” disse Flávio Mota, chefe do Departamento de Indústria de Base e Extrativa do BNDES, que financiou parte dos R$ 221 milhões que o projeto custou.
Rejeito de barragem vira mina
As barragens estão localizadas em uma mina operada há 38 anos pela AMG, que integra um grupo holandês com atuação nos setores de mineração, metalurgia e engenharia de materiais.
A empresa identificou que, nos rejeitos do tântalo, principal elemento químico explorado no local, há um nível de concentrado de lítio que justifica sua exploração econômica – a mina principal extrai o tântalo a partir do mineral espodumênio.
O projeto vai contribuir para a descaracterização das duas barragens desativadas e dar um fim econômico aos rejeitos, reduzindo os riscos para a população. Quando as reservas das barragens se esgotarem, a nova planta de processamento continuará sendo abastecida pelos novos rejeitos gerados continuamente durante a mineração do tântalo.
O projeto gerou 2 mil postos de trabalho indiretos durante as obras e 130 novos empregos na nova planta.
O BNDES anunciou que trabalha para identificar ou receber projetos com impacto social e ambiental de outras empresas de mineração que estejam planejando dar um uso racional aos seus resíduos.
“Hoje tem aplicações diversas para esses resíduos, que têm impactos sociais muito diretos. Por exemplo, estuda-se utilizar a aplicação de rejeitos na fabricação de tijolos para a construção de casas, outra alternativa é na fabricação de material asfáltico para fazer rodovia e pavimentação. Então, existem outras aplicações. O BNDES tem contato com alguns parceiros no intuito de estudar e ajudar a viabilidade desses projetos de dar uma aplicação aos rejeitos,” disse Flávio.
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