Com a desvalorização do preço da commodity, principal concorrente do Brasil estuda medidas para se manter competitivo

Em razão da grande importância da indústria de minério de ferro para o desenvolvimento da economia da Austrália na última década, o governo daquele país encomendou um estudo, desenvolvido pela consultoria Port Jackson Partners, que tem como objetivo mostrar caminhos para manter o crescimento do setor nos próximos anos. O trabalho, que detalha a evolução da produção australiana de minério de ferro, aponta medidas que podem ser adotadas em relação à produtividade, uso de tecnologias, capacitação da mão de obra e políticas de mercado.

De acordo com Brendan Pearson, CEO do Conselho de Recursos Minerais da Austrália, a estratégia política tem como alicerce dar condições para que todas as mineradoras do país operem de forma competitiva no mercado global, com negócios sustentáveis, mesmo em um cenário volátil de preços e não somente nos períodos de alta. Segundo ele, nos últimos meses o governo australiano tem discutido mais fortemente o atual cenário da indústria de minério de ferro e se o seu desempenho pode ser melhorado.

“Essa questão exige uma compreensão profunda sobre a evolução do setor e o atual cenário de mercado. Isso nos faz avaliar decisões passadas e tendências futuras, assim como abordagens políticas a partir de uma perspectiva de interesse nacional. Este relatório vai ajudar todos os interessados nesta indústria vital para o país”, afirma Pearson.

Segundo o levantamento, a indústria de minério de ferro da Austrália contribuiu com cerca de A$ 45 bilhões em negócios para a sua economia nos últimos 10 anos e poderá gerar A$ 78 bilhões em igual período futuro, considerando previsões modestas e conservadoras em relação ao preço do produto. Em 2014, as receitas do setor alcançaram A$70 bilhões, quase cinco vezes mais do que os A$ 14 bilhões de 2005.

Outro fato relevante é que cerca de 80% da capacidade produtiva da Austrália possui um custo produtivo baixo (menos de 50% do custo médio global), o que contribui para manter a competitividade do setor. “O desempenho e as perspectivas da indústria de minério de ferro da Austrália têm atraído maior atenção nos últimos anos. O setor é uma das maiores histórias de sucesso econômico deste país. Este sucesso não reflete apenas a qualidade e volume dos depósitos de Pilbara, mas a determinação das mineradoras e profissionais envolvidos no desenvolvimento da produção”, ressalta o executivo.

A maior parte da produção de minério de ferro da Austrália vem de Pilbara – a região, localizada no oeste da Austrália, possui depósitos de minério de ferro globalmente significativos, tanto em tamanho quanto em teor de ferro.

Um dos principais pontos abordados no estudo é se o forte crescimento da produção australiana, que saltou de170 milhões t em 2000 para mais de 650 milhões t em 2014, foi crucial para a desvalorização dos preços da commodity, contribuindo para uma forte oferta do produto no mercado global.

Segundo o estudo, a queda dos preços transcende o mercado de minério de ferro, sendo resultado de uma generalizada desvalorização das matérias-primas, como petróleo, cobre e ouro, assim como algumas commodities agrícolas. Além disso, o aumento da participação da Austrália neste mercado, indo de 34% em 2000 para 50% em 2014, trouxe riquezas substanciais para o país, como arrecadação (royalties), empregos e desenvolvimento das cadeias de suprimentos, que superam o impacto de qualquer ciclo de baixa. Impostos e taxas pagos ao governo totalizaram quase A$ 100 bilhões de 2005 a 2014, dez vezes mais dos que os A$ 9 bilhões pagos entre 1995 e 2004.

Por fim, o estudo aponta que intervenções no mercado, por meio de ações do governo, como controle da oferta, tendem a ser ineficazes e prejudiciais à produção. O trabalho cita as medidas para o controle da exportação em 1970 e 1980, que influenciaram o Japão em escolher o Brasil, ao invés da Austrália, para realizar seus investimentos – no início de 1980, o governo japonês fechou um acordo com a Vale para investir na construção de portos e na malha ferroviária.

Apesar de estar atrás da Vale em volume de produção, a Rio Tinto, que possui 13 minas em Pilbara (Austrália), é a produtora mais lucrativa do mundo, com um custo por tonelada em torno de US$ 30
 

O relatório defende ainda um mercado livre internacional, já que a concorrência entre players globais estimula o aparecimento de novas tecnologias e processos de redução de custos e aumento da produtividade. Nesse sentido, os autores ressaltam que os projetos australianos devem ter acesso às soluções dos fabricantes de todo mundo e não somente priorizar os produtos e serviços do país.

A conclusão é de que o governo australiano deve manter o foco no aumento da competitividade do setor por meio do investimento em novas tecnologias, treinamento da mão de obra e redução de custos. Os autores sugerem ainda que é preciso buscar constantemente as boas práticas de uso de energia e água, assim como melhorar as condições e serviços de infraestrutura, visando a sustentar o desenvolvimento de longo prazo. Por outro lado, o relatório alerta que as indústrias, voltadas para exportação, são menos capazes de absorver altas cargas de impostos gerados por legislações e políticas públicas mal formuladas, que alavancam os custos de produção e reduzem as receitas.

Preço alto e produção crescente

De 2000 a 2010, a produção anual de minério de ferro da Austrália cresceu, em média, 10%, saindo de 170 milhões t em 2000 para mais de 650 milhões t em 2014. Com as vastas e ricas reservas de Pilbara, as mineradoras aproveitaram o boom dos preços e colocaram em operação novos projetos e expansões.

Durante o período, os preços subiram para um pico de mais de US$ 190 por tonelada em 2011, antes de diminuir para os atuais US$ 54. De 2000 a junho de 2015, os preços tiveram uma média de US$ 74 por tonelada, mais do que o dobro da média de 1966-2000. “Sobre a última década, o preço do minério de ferro atingiu um pico de 5,6 vezes o seu preço médio de 1980 a 2005. Ao mesmo tempo, outras commodities triplicaram ou “apenas” dobraram
de preço em relação aos níveis anteriores”, aponta o estudo.

Os investimentos em novos projetos ou/e para manter as capacidades totalizaram A$ 100 bilhões de 2005 e 2014, nove vezes mais do total gasto entre 1995 e 2004. No entanto, as despesas de operação com as plantas atuais também cresceram, em média, US$ 1,5 bilhão por ano, a cada ano.

Brasil – maior concorrente

O estudo destaca que o Brasil é o principal concorrente da Austrália no mercado global de minério de ferro. Com reservas volumosas, de alta qualidade e custos de logística em queda, o País se iguala aos níveis produtivos da região de Pilbara. Segundo o estudo, a Austrália falhou no atendimento das necessidades dos clientes, principalmente alguns clientes da Ásia, o que fez o Brasil construir a sua posição.

Desde o início dos anos 1960, o desenvolvimento da indústria de minério de ferro da Austrália ocorreu graças à parceria com empresas japonesas. No entanto, entre 1970 e 1980, os controles das exportações australianas, bem como uma relação difícil entre governo e indústria, incentivou a indústria siderúrgica e trades japonesas a apoiar o desenvolvimento da produção de minério de ferro brasileira. A partir daí, o rumo das indústrias foram nitidamente diferentes: a estagnação da Austrália e o rápido crescimento do Brasil.

Nos últimos anos, os dois países implementaram planos de desenvolvimento de suas atividades, fundamentadas em altas taxas de produtividade e redução de custos. O estudo destaca que a Vale, maior produtora de minério de ferro do Brasil, tem uma abundância de projetos de expansão em andamento e que até 2018 irá colocar mais volume no mercado do que a Rio Tinto e BHP Billiton juntas (principais produtoras da Austrália).

Fonte: Revista Minérios & Minerales