Augusto Diniz – Conceição do Mato Dentro (MG)
A Anglo American encerra até o fim deste ano as obras dos diques de sedimento de seu projeto de minério de ferro nos municípios de Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas (MG). As estruturas dos diques e abertura da cava aguardam licença de operação dos órgãos ambientais – recebendo autorização, a Etapa 3 do projeto da mineradora em Minas Gerais poderá entrar oficialmente em funcionamento.
A conclusão das obras dos diques coincide com o retorno da operação da planta e do mineroduto, que sofreu substituição de tubulação em trecho de 4 km – dos 529 km existentes – em função de dois vazamentos ocorridos em março. O mineroduto transporta polpa de minério de ferro (70% de ferro e 30% de água) da planta ao Porto do Açu, no Norte Fluminense. Por conta dessa integração envolvendo planta, mineroduto e porto é que o projeto tem o nome de Minas-Rio.
As obras da Etapa 3, que deverá elevar a produção de minério de ferro à meta final da empresa para 26,5 milhões t/ano, envolvem três grandes frentes de trabalho: alteamento de barragem, ampliação dos diques de sedimento e abertura de cava. A planta de beneficiamento, quando construída, foi dimensionada para atender as três etapas do projeto, o que não exige hoje intervenção de ampliação.
A Etapa 3 refere-se à última jazida de minério de ferro possível de exploração na área adquirida pela Anglo American na região. A jazida integrada ao chamado Step 1 está quase exaurida. O Step 2, localizado ao norte e ao sul da jazida do step 1, encontra-se em mineração. O Step 3, que fica ao sul da planta, é que está em desenvolvimento e faz parte da Etapa 3 do projeto.
O pellet feed, com 67% de teor de ferro, é o único produto beneficiado nessa planta industrial da Anglo American, que tem o seguinte fluxograma básico: britagem, peneiramento, moagem, flotação, estação de bombeamento do mineroduto, transporte pelo mineroduto, e filtragem e secamento da polpa de minério de ferro já no Porto do Açu, para embarque ao exterior.
A Etapa 3 dá mais 15 anos, pelo menos, de vida útil ao projeto da mineradora. As execuções da Etapa 3, com 1 mil trabalhadores, absorveu 60% de mão de obra local, nas várias frentes de serviço.
EXECUÇÕES
O engenheiro Bruno Luiz Dias dos Santos, gerente de obras da Anglo American, responsável pelas execuções dos diques de sedimentos e do alteamento da barragem, explica que os diques são minis barragens onde os sedimentos são carreados.
Os cinco diques selantes fazem parte do sistema de drenagem para conter os sedimentos que carreiam – por conta das chuvas ou pequenos cursos de água – das áreas ao alto do terreno, numa face do morro, onde estão as lavras, para um córrego na parte baixa, que integra a Bacia do Rio Santo Antônio – um importante afluente do Rio Doce.
Os diques 3 e 4 foram executados em aterro compactado. O dique 3 possui 15 m de altura máxima e 300 m de extensão. Já o 4, tem 120 m de extensão e altura máxima de 10 m.
A fundação dos diques é formada por um tapete drenante e aterro compactado, explica Bruno. Pela ordem, retira-se o solo aluvionar existente antes de se montar o tapete drenante. A argila compactada dá forma ao dique. A argila é retirada de uma área de empréstimo de solo argiloso, próximas aos diques.
O tapete drenante é composto por camadas de areia, brita e areia. Nos diques foram instalados piezômetros e medidores de nível de água no solo para controle e segurança das estruturas. No caso do desvio do curso d’água para as obras, no dique 3 utilizou-se tubulações e no dique 4, canal aberto ao lado.
Cada dique possui um extravasador de concreto, construído in loco, que tem em sua boca um enrocamento de pedras para evitar carreamento de solo.
Os extravasadores foram executados em escadas para dissipar a energia da água. Segundo o engenheiro responsável pelas obras, todas as medidas foram tomadas no sistema de diques de sedimentação, tanto nas obras como depois, para evitar que a água chegue ao córrego com o mínimo de turvidez e sólidos em suspensão, além de vazão adequada.
BARRAGEM
A barragem existente no complexo da Anglo American está sendo ampliada por conta da Etapa 3 do projeto. As obras de alteamento serão em quatro fases e levarão quatro anos – hoje se processa a primeira.
Destaca-se que a Etapa 3 não depende de sua conclusão para dar início a operação e, por conta disso, essa primeira fase de obras de alteamento deve ser concluída no primeiro quadrimestre de 2019.
O volume de aterro da barragem com as obras alcançará 2,5 milhões m³ quando as quatro etapas do projeto forem concluídas. Já o volume da fundação é de 600 mil m³.
A barragem é feita em solo. Atualmente, ela possui altura máxima de 40 m, mas o projeto de alteamento a subirá mais 20 m de altura. A primeira fase, que está em progresso, ampliará a barragem em 5 m, de acordo com o engenheiro Bruno.
O alteamento está sendo feito a jusante. Os serviços de fundação dela serão todos realizados ainda na primeira etapa dos trabalhos. O extravasador da barragem já existe e um stop log controla a vazão de água residual. A água da barragem é hoje 70% reaproveitada no processo.
DESAFIOS
As construções que se desenvolvem nos diques e na barragem, dentro da Etapa 3 do projeto da Anglo American, de acordo com o Bruno Luiz Dias dos Santos, se definem como obras de engenharia geotécnica, geológica e hidrológica. O engenheiro ressalta que tudo foi dimensionado com os níveis mais altos de situação crítica, baseado no histórico hidrológico da região.
“Há uma preocupação muito grande com o meio ambiente e a segurança. Temos sido ao máximo proativos”, afirma. “Estamos também atentos aos prazos e sequenciamento do projeto”.
CAVA
O engenheiro Cesar Millan Carrero, responsável pela Anglo American dos trabalhos de abertura de cava, explica que está atividade deve durar até o meio do ano que vem.
Para esta tarefa, o objetivo é abrir acessos até o topo do morro onde será explorado o minério da Etapa 3. Do topo, vai se desenvolvendo para baixo as bancadas com altura média de 15 m, já com a atividade minerária em andamento.
Na ordem dos trabalhos, para abrir os acessos, Cesar explica que é necessário primeiro fazer a limpeza com a remoção do top soil. Em seguida, realizam-se as perfurações para proceder o desmonte de rocha. Por fim, faz-se o carregamento de minério e estéril.
O minério que está sendo retirado para construção dos acessos é empilhado em área específica para, após o licenciamento, ser encaminhado para o beneficiamento. O estéril tem sido usado como aterro.
Os acessos têm 40 m de largura e 90% são em rampa ascendente. O acesso é pavimentado com a canga extraída no local e possui 1,5 m de espessura para suportar a passagem dos pesados caminhões fora de estrada de transporte de minério.
Ele também ressalta a importância de se trabalhar com segurança no local e atender permanentemente as questões ambientais.