Membro credenciado do SDSN das Nações Unidas para Agenda 2030, engenheiro destaca importância de uma implantação conjunta dos 17 ODS 

Os termos ESG (abreviação de “Environment, Social & Governance” – Ambiental, Social e Governança, no português) e ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) já fazem parte do dia a dia das grandes empresas mundo afora há um bom tempo, especialmente no caso da mineração.

Membro credenciado do SDSN (em português, Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável) das Nações Unidas para os ODS 2030, o engenheiro químico especialista em desenvolvimento territorial e mineração Renato Ciminelli avalia que os 17 ODS precisam ser implantados de forma simultânea à agenda ESG. “Estrategicamente, baseando-se em demandas imediatas que devem ser priorizadas, mas criando-se o que ele classificou como “uma capilaridade”, de tal maneira que um investimento contemple os outros, sucessivamente”, afirma.

Ciminelli está coordenando o seminário “ODS + ESG – Territórios e setor privado: competitividade, desenvolvimento e sustentabilidade”, que será realizado no próximo dia 31 de agosto. Ele falará sobre práticas para sistemas de territórios e empreendimentos, como programar e realizar um desenvolvimento sustentável acelerado, além de relatar casos de sucesso. 

“Sustentabilidade, sim, mas sem esquecer ninguém. Isso faz parte do conceito que vem da Europa, o European Deal (acordo europeu) ou então do Just Transition, que justamente falam isso: contemplar toda sociedade sem esquecer ninguém. Não excluir um por entender que é difícil: é preciso colocar na agenda todos segmentos da população. Sem ter exclusão. Inclusão é a grande fala do momento. E os 17 ODS pregam inclusão de temas, de objetivos e metas, assim como daqueles que vão ser influenciados. O meu entendimento e dos órgãos dos quais participo é de que os 17 ODS têm que ser implantados conjuntamente, criando uma capilaridade, de tal maneira que investindo em um vai contemplar os outros”, salienta.

Especialista em governança e desenvolvimento territorial e consultor de marketing e estratégia empresarial, Ciminelli foi gestor de projetos internacionais na Unesco em vários países (Austrália, França, Portugal, Chile, Israel, entre outros). Ele sugere que haja uma discussão global de todo o conjunto existente no negócio mineração para que se tenha um planejamento tático-estratégico. Uma agenda que defina prioridades e que mostre articulação e capilaridade entre objetivos.

“Gosto de usar o termo ‘ações ou projetos alavancadores’, porque um vai estar alavancando o outro. Se nós estivermos trabalhando desta maneira e se fizer com que todos saibam dessa alavancagem, você consegue deselitizar o conhecimento, a informação. Todos nós que temos essas informações precoces temos obrigação de compartilhar com as comunidades. Se pensar nos ODS e no ESG, informação é a iniciativa mais importante. E de uma forma acessível”, avalia.

“A grande mineração mudou muito. Positivamente, mas muito em função de acidentes que ocorreram. Felizmente, os órgãos governamentais se mexeram. Mas eventos recentes mostraram que ainda há falhas no processo, e que eles têm de estar constantemente sendo estudados e avaliados, estabelecendo novas medidas corretivas e de controle. À medida que a mineração inclua a sociedade como parceiro, passa a ter contribuições desse setor mais próximo – e não necessariamente de um parceiro operacional”, destaca Ciminelli.

Para ele, a Fundação Renova é um case de sucesso. Entidade responsável pela mobilização para a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, de propriedade da Samarco, em Mariana (MG), ocorrido em novembro de 2015, ela tem como objetivo restaurar e requalificar todo território atingido.

“Estudar a Renova e a sua atuação, no futuro, é uma escola, que vai repercutir em todas as mineradoras. Certamente as mineradoras mudaram. Hoje, no Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), você tem uma diretoria que trabalha com desenvolvimento territorial. Isso, no passado, era restrito. Só olhavam as questões socioambientais. O que tenho estimulado nos eventos em que tenho participado é que, cada vez mais, o ESG esteja alinhado com ODS. Quanto maior o alinhamento, mais rápido, produtivo e bem sucedido vai ser o fortalecimento desse patrimônio de sustentabilidade para a mineração. Ela já está no caminho. É um processo caro, trabalha articulado. À medida que está comprometida com ESG, que é empresarial e financeiro, à medida que estiver articulado com aqueles atores que estão engajados aos ODSs e aos pactos globais, mais natural, mais produtivo e assertivo será o processo. Os dois lados vão ganhar”, salienta, destacando que ESG e ODS são uma agenda de comprometimento voluntário da mineração.

O mineral extraído é avaliado pelos investidores em Bolsa de Valores não só pela quantidade e qualidade, mas, também, pela gestão de toda a cadeia produtiva local – especialmente a governança dos fatores sociais e municipais envolvidos. A mineração é uma das poucas indústrias que emergiu da crise econômica da pandemia em excelente forma financeira e operacional, entendendo que, fora dos ODS, base do ESG,os negócios vão enferrujar.

E além das mineradoras, os municípios precisam estar preparados para usar a alavancagem positiva desses impactos a seu favor, entendendo, aprendendo e adotando a governança pela sustentabilidade.

“Apesar de vários profissionais e várias organizações dizerem que ODS e EGS é puramente marketeiro, eu não acredito. Eu acredito numa grande evolução e que o EGS passou a ampliar o horizonte de influência da mineração, transcendendo em 100, 200 km o território de atuação. Isso muda o profissional, o entendimento de como os profissionais da mineração pensam”, finaliza Renato Ciminelli.