Eletrificação nas operações, troca de combustíveis, novas tecnologias, “cashbacks” para devolução de embalagens e ampliação para novos segmentos na reutilização de materiais. Em busca de zerar as emissões e cumprir as metas da Agenda do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) até 2030, empresas de infraestrutura, mineração e diversos outros segmentos estão se adaptando a soluções para se tornarem cada vez mais sustentáveis.

Nessa corrida contra o tempo, literalmente, um encontro foi realizado para discutir além das mudanças climáticas, também as transformações corporativas internas, para que as empresas respeitem mais o meio ambiente e também a população que vive nele, o famoso conceito ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance, que significa Ambiental, Social e Governança).


Com este intuito foi realizada a 4ª edição do Summit ESG, um evento promovido pelo Estadão com apresentação da Hydro, e patrocínio da 99, Banco BV, Bracell, Grupo Boticário, Heineken, Schneider Electric, Teatro B32 e Ultragaz. O encontro, cujo tema “Desafio 2030. Todos unidos pelos objetivos de desenvolvimento sustentável”, aconteceu na última semana, no Teatro B32, na Faria Lima, em São Paulo.

Além das apresentações de grandes empresas, o evento contou com a palestra da gerente de Projeto da Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda para Transformação Ecológica, Carina Vitral, e a ex-primeira-ministra do Canadá, Kim Campbell, primeira e única mulher que já dirigiu o governo canadense. “O planeta flerta com o ponto sem volta. O corte do uso de combustíveis fósseis é urgente. Assim como as discussões sobre adaptação e sobre formas de financiar os países menos desenvolvidos a enfrentar a crise climática”, alertou Campbell, destacando a importância da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que desta vez será no Brasil, em Belém (PA), em novembro do próximo ano.

Em seguida, vários painéis reuniram companhias, instituições e especialistas no assunto, que debateram as necessidades de zerar as emissões mundialmente até 2030. “Nós, cientistas, tínhamos previsto no final de 2022, que em 2023 atingiríamos a temperatura global de 1,3 graus mais quente que em 1850 e 1900. Mas em junho do ano passado, já passamos de 1,5 graus e continuamos com a temperatura alta. No acordo da COP26 a meta era para não passar de 1,5 graus, e para isso teríamos que reduzir as emissões em

43% até 2030. Como já atingimos esse número agora, se seguirmos o mesmo critério da COP26, vamos chegar em 2050 com 2,5 graus. Um risco total. Porque a gente dispara em pontos de não retornos negativos, que são: perder a Amazônia, descongelar grande parte do solo da Sibéria no Norte do Canadá e outras consequências, além de corrermos o risco de chegarmos no final deste século podendo alcançar 4 graus mais quente”, alertou o cientista e engenheiro Carlos Afonso Nobre, que é climatologista e doutor em meteorologia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Apesar do choque da notícia, ressaltou a importância do Brasil nessa missão: “Por isso a COP30 vai ser a mais importante de todos os tempos, e o Brasil tem todas as condições de ser o primeiro país do mundo a zerar suas emissões, não em 2050, mas em 2040, se ele quiser”.

Iniciativas das indústrias

Diante da realidade climática e da tão sonhada transição energética para alcançar metas e minimizar os impactos ambientais, a Hydro, mineradora com operações na Amazônia (em Barcarena e Paragominas – PA), apresentou durante os painéis suas soluções já adotadas para 2030. O vice- presidente de Operações de Bauxita e Alumínio da Hydro, Carlos Neves, contou que a companhia, além de ter realizado a substituição de combustíveis fósseis por gás natural, implementou caldeiras elétricas nas suas operações.

“Essas melhorias já tiveram uma redução de emissão em 15%, além de outras iniciativas que temos para chegar a mais 32% até o final de 2024. Instalamos uma caldeira elétrica como piloto em 2023, e teremos mais duas caldeiras elétricas que estarão em operação até dezembro deste ano. Essas três caldeiras elétricas vão reduzir 550 mil toneladas de carbono por ano”, contou Neves. A companhia também divulgou seu programa de descarbonização, que além da eletrificação e da introdução do gás natural no lugar do óleo BPF, está em fase de testes, a opção de utilizar o caroço de açaí como alternativa de combustível.

Já em outro painel, empresas de segmentos diferentes como a Schneider Electric Brasil e a Coca-Cola Company, falaram de suas iniciativas tecnológicas para ações sustentáveis e o cumprimento da Agenda 2030. “Recebemos o título de empresa mais sustentável por três anos consecutivos, e isso não é fácil. Nós nos preocupamos com todos os desenvolvimentos de nossos produtos com a performance energética, provendo hardwares e softwares sendo o principal norte dos nossos investimentos a sustentabilidade”, disse Regis Ataides, VP de Automação Industrial e diretor de Digitalização da Schneider Electric.
Também falando em tecnologias para impulsionar ações sustentáveis, neste caso com o uso de embalagens, Rodrigo Brito, diretor de Sustentabilidade da Coca-Cola América Latina, revelou os projetos da companhia, entre eles a oferta de um “cashback” para incentivar a devolução das garrafas pelo consumidor.

“A Coca é uma ‘jovem’ de 138 anos, mas que vê a sustentabilidade tão essencial quanto a inovação. Na América Latina temos um hábito antigo que é o uso das retornáveis, neste setor, a Coca-Cola global tem uma meta de chegar a 25% do volume de vendas. E uma das iniciativas já implementadas para incentivar isso, e que começou no Chile, é a inovação nas garrafas retornáveis com um QRCode, onde podemos acompanhar onde ela andou, e quando o consumidor ler esse QRCode, ele vai receber uma mensagem para devolver a garrafa e ganhar um desconto”, explicou Rodrigo Brito, anunciando que esse sistema da Coca começará no Brasil em cinco estados do Nordeste, no início do ano que vem. “Nossa meta é chegar em 40% nas vendas através das retornáveis”.

Ainda segundo o diretor da Coca, em entrevista, explicou que os outros 60% de outros materiais do produto, são divididos entre vidro e alumínio, com metas de reciclagem. “No nosso portfólio de vidro, 98% já é retornável, e de alumínio, a reciclagem no Brasil já atingiu mais de 100%, então nossos esforços de coleta são focados em PET. Para isso temos uma parceria com a Associação Nacional dos Catadores, desde 2017, que apoia 260 cooperativas em 135 cidades. Só esse programa coleta mais 105 mil toneladas por ano, além de outros programas que coletam ainda mais. Então a reciclável também é um objeto retornável quando há circularidade em funcionamento”, explicou Brito.

Uma outra marca que apresentou seu planejamento focado na circularidade, é do Grupo Heineken. Em outro painel, a cervejaria holandesa contou que lançou um ecossistema de novos negócios chamadas Heineken Spin, voltada somente para a circularidade. “Essa é uma das nossas prioridades, e o vidro é a cadeia mais importante da Heineken, porque o alumínio já está bem equalizado no Brasil. Por isso, nós queremos ampliar nosso portfólio de retornáveis, e quando não for possível ser retornável, que seja reciclável”, afirmou Mauro Homem, vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos do Grupo Heineken.
Além da parceria com a Ambipar na circularidade, o Grupo Heineken, através do ecossistema Spin, trabalha com a Rizoma Agro nas atividades de agricultura regenerativa, com o Grupo Raízen e Ultragaz em energia, e para impulsionar o empreendedorismo de marcas, a parceria com a Better Drinks e Central Única das Favelas (CUFA).