O mês de janeiro está sendo marcado por manifestações para a manutenção do emprego nas principais regiões extrativistas do Brasil. Em Minas Gerais, estado responsável por 70% da produção brasileira de ferro – e onde a mineração responde por quase 5% do Produto Interno Bruto (PIB) – aproximadamente 12 mil vagas foram cortadas apenas no setor de extração mineral, a reboque do corte de produção que já chegou a 50%, de acordo com os sindicatos dos trabalhadores de extração de ferro da região mineira consultados pelo DCI.

As dispensas podem ser ampliadas, já que o retorno das férias coletivas está ocorrendo desde o início do mês. “Estamos intensificando todas as nossas ações nesta semana. A Vale quis suspender os contratos de trabalho sem dar garantia de emprego, mas não iremos ser facilitadores para o desemprego”, afirmou Paulo Soares de Souza, presidente do Sindicato Metabase de Itabira, região que, de acordo com Souza, já perdeu duas mil vagas desde o início da crise financeira. Apenas Itabira produz, anualmente, 50 milhões de toneladas de ferro. A Vale produziu, em 2007, 296 milhões de toneladas do insumo. Já a produção brasileira contabilizou 350 milhões de toneladas.

De acordo com o presidente do sindicato de Itabira, com a suspensão dos contratos, a Vale propôs que a remuneração viesse do seguro-desemprego do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Com a proposta negada pelo sindicato, a empresa enviará uma nova nos próximos dias.

“O setor extrativo é o último a ser aquecido com a retomada do crescimento da economia. Mas nós estamos trabalhando para manter o trabalho até que a crise passe. A empresa está em uma situação muito tranqüila, nenhuma outra brasileira está como a Vale”, afirmou Souza.

“Queimar a gordura” tem sido uma justificativa recorrente entre os sindicatos da categoria. Para eles, o lucro obtido pela companhia nos últimos anos é suficiente para não haver demissões no início da crise. No último balanço divulgado pela empresa no final de outubro, sobre o terceiro trimestre do ano, o lucro saltou 166% entre julho e setembro, para R$ 12,433 bilhões.

“Caso ocorram mais demissões, a situação se agrava na região”, afirmou o diretor do Sindicato Metabase de Congonhas, também município de Minas. A cidade, assim como Itabira, também está promovendo atos públicos para conter as demissões na região.

A Vale informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que foram cortadas 1.300 vagas diretas da empresa até dezembro – no Brasil e em outros países em que a empresa atua – sendo que 20% do total ocorreu em Minas. A empresa lembrou que em 2009 não houve nenhuma demissão e que o quadro de funcionários da companhia foi ampliado em 5 mil vagas em 2008.

De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), não foi realizado levantamento sobre as demissões no estado, mas “elas estão ocorrendo”. Segundo o presidente do Conselho de Relações de Trabalho da Fiemg, Osmari Teixeira de Abreu, os meses de dezembro e janeiro são tradicionalmente mais difíceis para se fazer análises. “Agora as empresas estão voltando de férias coletivas e ainda não sabemos se elas irão demitir ou não”, disse. Ainda de acordo com o empresário, os sindicatos da categoria não buscaram a intervenção da federação mineira nas negociações com as indústrias.

Sem previsões
O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) ainda não arrisca previsões para o ano de 2009 e nem quando a retomada de produção deve ocorrer. De acordo com o presidente da entidade, Paulo Camillo Penna, projeções poderão acontecer apenas depois do término do primeiro trimestre do ano. De acordo com o executivo, as medidas governamentais começaram a surtir efeitos na economia.

“Muitas empresas estão buscado nesse período, que chamamos de amadurecimento, para dar férias coletivas e antecipar manutenções programadas. E isso tem gerado notícias alarmistas”, afirmou Penna.

Um outro efeito da crise, segundo analistas é a queda do preço do minério de ferro, commodities que viu seu preço no pico durante o início de 2008. A expectativa gira em torno da volta da compra do minério pela China. Segundo relatório da corretora Link Investimentos, o minério de ferro da Vale que, por ser de melhor qualidade, detém maior poder de barganha nas negociações.


Fonte: Padrão