A Lundin Mining abraçou o propósito de encontrar uma solução para o acúmulo dos rejeitos e contribuir para diminuir a dependência de fertilizantes do Brasil. O país depende da importação de cerca de 90% do potássio, 70% do nitrogênio e 50% do fósforo. Desde 2020, a Lundin retomou o experimento para utilizar remineralizador oriundo do rejeito na agricultura, com apoio da Mineagro, empresa privada de pesquisa agromineral. Após resultados iniciais promissores, o projeto evoluiu para um plantio de soja, safra 2021/2022, e posteriormente sorgo, em uma fazenda experimental de 900 hectares localizada em Ipameri/GO.

 O remineralizador apresentou eficiência aproximadamente 3% superior ao produto referência de mercado. Após esses experimentos, Chapada obteve do MAPA o reconhecimento do rejeito enquanto remineralizador de solos. Com isso, abre-se a oportunidade de unir a destinação alternativa dos rejeitos com o incentivo ao principal setor produtivo do estado de Goiás – o agronegócio.

A Lundin Mining possui e opera no Brasil uma mina a céu aberto de cobre e ouro, localizada no município de Alto Horizonte/GO, a qual emprega cerca de 2.000 pessoas no país. Atualmente a operação consiste em lavra a céu aberto de 03 cavas, planta de beneficiamento e barragem para disposição de rejeitos, gerando cerca de 24 milhões de toneladas de rejeito por ano, sendo que a mina ainda possui vida útil de pelo menos 24 anos.

 O processo produtivo abrange beneficiamento em circuito de britagem primária, moagem, flotação, espessamento e filtragem. Em cada uma das etapas, há adição de insumos para garantir a performance operacional. Os rejeitos gerados no processo são encaminhados para uma barragem de rejeitos, que tem o alteamento feito a partir da ciclonagem do próprio rejeito gerado.

A figura 2 representa o processo produtivo existente na planta de beneficiamento de Chapada, o qual resulta na produção do concentrado de cobre. A operação da barragem se dá por ciclonagem de rejeitos, o qual separa sólidos de líquidos através de força centrífuga. A partir desse processo as partículas maiores e mais pesadas (areia) são utilizadas no alteamento da barragem. Já as partículas menores e menos densas e a água são depositadas na barragem.

O rejeito gerado é classificado como um pó rocha de micaxisto, oriundo de rochas metamórficas com grande quantidade de muscovita/ sericita e biotita. O pó rocha de micaxisto têm demonstrado resultados eficientes em cultivos agrícolas no Brasil. Nesse contexto, a Lundin, considerando seus valores e pilares ESG, bem como o sistema de gestão de Mineração Responsável (RMMS), identificou a oportunidade de viabilizar um uso alternativo ao rejeito que promova e economia circular destinando-o para a produção agrícola, fortalecendo assim um dos principais setores da economia de Goiás, que tem forte vocação ao agronegócio.

3. METODOLOGIA APLICADA O uso de remineralizadores é regulamentado por legislação específica do MAPA, principalmente a Instrução Normativa nº 5/2016, que dispõe sobre as 3 etapas necessárias para aprovação e cadastro de produto novo, sendo elas:

 1- Caracterização Físico Química,

2- Incubação no solo em cava de vegetação,

 3- Teste de eficiência agronômica em casa de vegetação.

 Após cumprir estas etapas e obter bons resultados, a Lundin Mining tomou a decisão de voluntariamente realizar 02 plantios (soja e sorgo) de escala comercial em uma fazenda de experimentação agronômica em Ipameri/GO. 3.1. Caracterização Físico-química e Incubação no Solo. Os remineralizadores de solos devem ter no mínimo 1% de K2O e 9% de Soma de Bases (K2O, CaO e MgO) em teores totais. Para verificar se o rejeito de Chapada teria o potencial de atingir essas qualificações, enviou-se amostra do rejeito à Mineragro dar início à caracterização e ao teste de incubação e posteriormente com plantas. Após o material ter sido aprovado laboratorialmente, foi iniciado o teste de incubação em vasos com dois solos diferentes durante 60 dias.

 Foram utilizadas 5 doses diferentes do rejeito, contando o controle (dose 0 t ha-1) e comparado com um remineralizador comercial já registrado no MAPA. Foram estudados no total 80 vasos para cada solo diferente, totalizando 160 vasos. 3.2. Teste com plantas em Casa de vegetação Após o período de incubação, foram semeadas seis sementes de milho e sorgo em cada solo diferente, dessa forma, tinha-se 40 vasos de milho e 40 vasos de sorgo por solo.

As plantas foram conduzidas em casa de vegetação e irrigadas conforme a necessidade. As plantas foram conduzidas até 50 dias após a emergência, em que foram avaliadas por altura, diâmetro de colmo e secas em estufa para pesagem de matéria seca. Após, foram enviadas para um laboratório para determinar se o produto da Lundin efetivamente disponibilizou nutriente.

3.3. Teste do remineralizador Lundin Mining em plantios de soja e sorgo O experimento de campo com o rejeito da Lundin foi implantado na safra de 2021/2022 na região de Ipameri/GO. Foi utilizada uma dose de G 2 5 º P r ê mio de E x c el ê n c ia 25º EXCELÊNCIA Prêmio de da Indústria Minero-Metalúrgica Brasileira 2023 5 toneladas por hectare do rejeito da Lundin, em comparação a um remineralizador comercial (aplicado na mesma dose) e o tratamento controle. Na safra foi avaliada a cultura da soja, e em sequência, a cultura do sorgo em segunda safra.

4.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com as análises de laboratório, o remineralizador da Lundin é típico de um micaxisto e teve 8,55 % de Soma de Bases e 2,80 % de K2O. O produto foi testado como um remineralizador novo junto ao MAPA. A mineralogia do micaxisto verificada é interessante, pois mais de 50% de seus minerais são reativos e disponibilizam nutrientes já no primeiro ciclo para a cultura. No teste de incubação foi verificado que o pó de micaxisto da Lundin foi eficiente na liberação de fósforo, potássio e cálcio, além de melhorar a fertilidade do solo aumentando a soma de bases, capacidade de troca catiônica e saturação por bases, mostrando que pode ser um aliado para a correção de solo.

De maneira geral, o remineralizador aumentou a MSPA de todas as plantas cultivadas em comparação ao tratamento controle. Para o sorgo em um dos solos, a matéria seca de parte aérea de planta foi de 8,81 para a dose 0, para 16,31 gramas por vaso logo na primeira dose, ou seja, mais que dobrou o resultado. Para o milho, no mesmo solo, foi encontrado um acréscimo de 2,76 vezes entre a dose 0 e a primeira dose utilizada. Com isso, o rejeito testado atende perfeitamente os requisitos de Remineralizador de Solo, demonstrando um efeito potencial excelente na agricultura.

Os resultados foram satisfatórios, em que no mínimo o remineralizador da Lundin se equiparou ou remineralizador comercial, e se demonstrando numericamente maior que o controle. Adicionalmente foi elaborado um business case no qual identificou-se que a região de abrangência do remineralizador da Lundin Mining pode ser considerada uma área de enorme potencial para a comercialização de remineralizador de solo, principalmente por conta da relevante área das culturas de soja e cana-de-açúcar na região, totalizando um consumo anual potencial de até 19 milhões de toneladas no raio de abrangência de 500 km.

5.0 CONCLUSÕES Verifica-se que o produto oriundo do rejeito de Chapada atende aos requisitos do MAPA para ser caracterizado como remineralizador, apresentando melhoria na qualidade do solo e eficiência agronômica, sem causar danos ao meio ambiente. O uso do remineralizador da Lundin não alterou o pH do solo após o período de incubação e plantios, o que demonstra que o micaxisto não apresenta risco de acidificação do solo.

 Os resultados da incubação e plantios indicam que o pó de micaxisto da Lundin é eficiente para o aumento da disponibilidade de nutrientes e da fertilidade do solo, proporcionando eficiência agronômica e aumento de produtividade. Foi identificada uma alternativa para diminuir o acúmulo dos rejeitos e contribuir para diminuir a dependência de fertilizantes no Brasil. Uma oportunidade de unir destinação alternativa dos rejeitos e, por consequência, diminuir o volume armazenado na barragem, com o incentivo ao principal setor produtivo do estado de Goiás, o agronegócio. Um exemplo claro de fomento a economia circular e prática ESG. O business case elaborado aponta consumo anual potencial de até 19 milhões de toneladas no raio de abrangência de 500 km.

AUTORES: Samuel Meier, Engenheiro Sênior de Meio Ambiente na mina de Chapada, Benônimo Ferreira, Gerente de Licenciamento e Meio Ambiente, Guilherme Araujo, Diretor de HSSD, Rafael Almeida, Engenheiro Eletricista, Wagner Perdigão, Nononon Nonononono e Isabela Cunha, advogada em Direito Ambiental e Minerário.