A Vale anunciou que já está em operação, nas obras da primeira etapa da descaracterização da barragem B3/B4, em Nova Lima (MG), equipamentos comandados por controle remoto, incluindo tratores, escavadeiras, motoniveladoras, carregadeiras e caminhões, entre outros. De acordo com a mineradora, os operadores ficam a até 1 mil m de distância, operando os equipamentos e de forma segura dentro de salas de controle.

A utilização de equipamentos remotos na barragem B3/B4 se deve ao fato de ela se encontrar em nível 3 de emergência, o mais elevado e onde não é possível aos trabalhadores acessarem a estrutura diretamente ou sua Zona de Autossalvamento (ZAS). Outras duas estão nessas condições e também receberão equipamentos operados à distância. São elas: Sul Superior, em Barão de Cocais (MG), e Forquilhas 3, em Ouro Preto (MG).

A primeira etapa da obra de descaracterização da B3/B4 envolve remover a pilha de estéril que se encontra a montante da barragem. Serão retirados 222 mil m³ de material dessa pilha com a utilização de equipamentos remotos, segundo a Vale.

“Esta etapa começou em novembro e deve terminar em abril próximo. Na sequência, terá início a remoção gradual dos rejeitos da B3/ B4, que também será feita com equipamentos remotos e com trabalhadores fora da ZAS”, informa Quirino Vitorio Nunes, gerente executivo do Processo de Descaracterização da mineradora.

A barragem B3/B4 já conta com uma grande estrutura de contenção a 8 km a jusante, concluída em outubro do ano passado, para fazer, em caso de rompimento, a retenção dos rejeitos.

De acordo com o gerente executivo, para que tenham o total controle das ações de movimentação de terra, os operadores contam com várias câmeras instaladas no equipamento e que permitem uma visão de 360 graus.

Na sala de controle, também foram instalados pedais junto ao assento do operador para que se recrie a sensibilidade física da condução do equipamento em campo, útil principalmente nas partes mais inclinadas do terreno.

Quando as obras avançarem para a remoção do rejeito da barragem B3/B4, o objetivo é contar com 27 máquinas operadas remotamente e 90 operadores capacitados nesse modo de operação. Já todo o projeto de descaracterização deverá ter, até 2022, 192 equipamentos e 500 operadores treinados.

“Não há um prazo definido para concluir o processo de descaracterização, até porque cada barragem tem suas próprias especificidades (porte, volume de rejeitos, localização, entre outros) e a Vale está priorizando o cuidado com a segurança dos trabalhadores e das comunidades próximas”, afirma Quirino Vitório Nunes.

O plano inicial da Vale era descaracterizar nove barragens alteadas a montante, todas localizadas no Quadrilátero Ferrífero. Após novos estudos, a Vale identificou outras estruturas (incluindo diques e pilhas de estéril) no processo de descaracterização.

As nove barragens da Vale em processo de descaracterização inicial envolviam a Sul Superior (Barão de Cocais), 8B (descaracteriza no final de 2019), Vargem Grande, Fernandinho, B3/B4 (Nova Lima), Grupo e Forquilhas I, II e III (Ouro Preto).

As outras estruturas que entraram depois em processo de descaracterização, incluem: Barragem Doutor (Mina Timbopeba, Ouro Preto); Baixo João Pereira (Mina Fábrica, Ouro Preto); Barragem Campo Grande (Mina Alegria, Mariana); Barragem Xingu (Mina Alegria, Mariana); Diques 1A e 1B (Mina Conceição, Itabira); Dique Rio do Peixe (estrutura descaracterizada em dezembro/20 e localizada na Mina Conceição, Itabira); Dique Minervino da barragem Pontal (Mina Cauê, Itabira); Dique Cordão Nova Vista da barragem Pontal (Mina Cauê, Itabira); Diques 02, 03, 04 e 05 da barragem Pontal (Mina Cauê, Itabira); Dique Auxiliar da B5 (Mina de Águas Claras, Nova Lima); Empilhamento Drenado Monjolos (Mina Água Limpa, Rio Piracicaba); Empilhamento Drenado Vale das Cobras (Mina Água Limpa, Rio Piracicaba), todas em MG, e Barragem Pondes de Rejeitos (Mina Igarapé Bahia, Parauapebas, no Pará).

Hoje, o projeto de descaracterização da Vale conta com 150 empresas parceiras e 8 mil trabalhadores (próprios e de terceiros).

Contenções a jusante

Além da barragem B3/B4, mais duas receberam estruturas de contenção, já que também se encontravam em nível 3 de emergência: Forquilhas e Grupo (estrutura a 11 km a jusante) e Sul Superior (estrutura a 6 km a jusante).

A primeira fase da contenção das barragens da Mina Fábrica (Forquilhas e Grupo), construída entre os municípios de Itabirito e Ouro Preto, foi concluída em outubro passado. Ela tem 77 m de altura e 300 m de comprimento.

As obras da segunda fase da contenção foram iniciadas na sequência e vão elevar a altura da contenção em mais 17 m, capacidade que permitirá a retenção de 100% dos rejeitos das barragens da Mina Fábrica, em um cenário hipotético de rompimento simultâneo de todas as estruturas. A previsão é que a segunda fase da obra esteja concluída até o final do primeiro quadrimestre de 2021, o que permitirá o início da descaracterização das barragens a montante da Mina Fábrica.

Na Sul Superior, com a contenção já concluída, a previsão é que as obras de descaracterização comecem neste ano. Desde 2020, a barragem passa por obras preliminares como construção de canais de cintura e bombeamento de água do reservatório.

Forquilhas 1

A barragem de Forquilhas 1 encontrava-se no nível 3 de emergência. Mas, de acordo com a Vale, devido às obras preliminares para aumentar seu fator de segurança (construção de canais de cintura para desviar água da chuva, bombeamento de água do reservatório, entre outras), a estrutura teve seu nível de emergência reduzido para 2 em outubro de 2020.

Outras ações que contribuíram para aumentar a segurança da estrutura foram: instalação de mais 37 instrumentos de monitoramento, além dos 39 que já existiam, radares terrestres e estações topográficas robotizadas.

Fernandinho

A barragem de Fernandinho se encontra em fase final de obras de descaracterização. Ao final dos trabalhos terão sido removidos todos os alteamentos a montante da estrutura, além de cerca de 700 mil m³ de rejeitos e solo, e construído um canal de enrocamento para escoar a água pluvial. A conclusão das obras está prevista para o final de abril. Depois, será feita a recuperação ambiental da área.

Barragem de Doutor

Na barragem Doutor está sendo executada a obra do vertedouro, que tem previsão para estar concluída no final de 2021. Ele terá a finalidade de manter o rebaixamento do nível de água do reservatório da barragem e, consequentemente, aumentar a segurança e estabilidade da estrutura.

Nesta fase inicial, informa a Vale, a obra do vertedouro será executada de modo sequenciado em áreas periféricas da barragem, com serviços de supressão vegetal, limpeza do terreno, terraplenagem e, por fim, a escavação do canal.

Na sequência da conclusão do vertedouro, a descaracterização de Doutor terá continuidade com a construção de reforços externos à barragem, recuperação ambiental e reintegração da área ao meio ambiente local.

Vargem Grande

Em Vargem Grande foram executados trabalhos preliminares como o plano de chuva para reduzir do nível de água do reservatório, com a construção de canais com o objetivo de aumentar a segurança e a estabilidade da estrutura. Estas obras antecedem o processo de descaracterização, previsto para começar no segundo semestre deste ano.

Acesso aéreo – com segurança

A Vale vem realizando sondagens com a utilização de um guindaste de 500 t instalado fora da Zona de Autossalvamento. O equipamento conduz um cesto para levar três operadores de sondagem, que é içado até o ponto em que eles devem realizar sua atividade na barragem. Em caso de necessidade, os técnicos são imediatamente içados e retirados em segurança para fora da ZAS.

Foram construídas também duas linhas de vida que cruzam a barragem, de margem a margem, para que os técnicos possam realizar manutenção nas bombas que controlam o nível d’água no reservatório da estrutura, ou para que sejam realizadas sondagens geotécnicas no seu interior. Os técnicos podem atravessar o reservatório da barragem utilizando um sistema de segurança preso a um cabo de aço que os mantém seguros.