O Brasil precisa se posicionar como um grande player global da indústria de mineração”.
A avaliação é de Miguel Antônio Cedraz Nery, engenheiro de Minas, doutor e mestre em Geociências, ex diretor-geral do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), diretor da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e gerente-executivo da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração(ABPM),
que participou no fim de novembro da 10ª edição do Simpósio Brasileiro de Exploração Mineral (Simexmin), em Ouro Preto (MG).
Em entrevista exclusiva à Minérios e Minerales, o profissional que é referência no setor
avaliou as ações para se atrair capital para a mineração no Brasil, a questão das áreas de pesquisa sem atividades e a demora das licenças ambientais, além de fazer um balanço deste ano, projeções para 2023 e analisar os principais desafios – como incorporar
as melhores práticas de ESG.
As mineradoras novas com projetos bons em qualquer país lançam ações para captar recursos. A principal bolsa é a de Toronto, no Canadá. O que mais tem sido feito para atrair investimentos na pesquisa mineral e na mineração no Brasil? Há um esforço, de fato, do setor mineral para viabilizar a listagem de empresas de mineração nas bolsas como uma alternativa para financiamento de seus projetos. O ideal é termos uma bolsa de valores brasileira, voltada para venture capital, e temos aventado essa possibilidade – que poderia ser via B3 ou outra com tal característica.
Atualmente, no exterior, as empresas, sobretudo as juniors companies, têm se estruturado e, muitas vezes com o auxílio de consultores, conseguem fazer a listagem de suas empresas no Canadá, Austrália ou Reino Unido, principalmente. Um fato que contribui muito para fortalecer a mineração nas Bolsas desses países é a existência de incentivos fiscais oferecidos aos investidores. Tal possibilidade permite promover uma cultura propícia e acessível, disseminada na própria população voltada a esse tipo de investimento.
Aqui no Brasil ainda não temos essa realidade. Primeiro, porque apenas empresas estruturadas e operacionais e com faturamento robusto é que conseguem abrir seus capitais e se listar na única Bolsa existente no país. Segundo, porque não há a cultura massificada de se investir em mineração via mercado de capitais. Além disso, associam-se as taxas de juros no mercado financeiro que remuneram melhor do que qualquer outro investimento, impondo uma relação retorno/ risco bem mais atrativa do que as opções de investimento em Bolsa.
Terceiro, porque não temos uma política de incentivos fiscais semelhante às dos outros países, que tornam muito atrativo fazer investimento de risco inclusive em empresas de pesquisa mineral, não operacionais—que não estão produzindo ainda. Precisaríamos criar condições para que a Bolsa pudesse melhor receber as empresas de mineração e as juniors companies, permitindo a listagem de empresas não operacionais na fase de risco geológico, e da parte do governo, criar algum incentivo fiscal para tornar o investimento mais atrativo.
Há empresas que não expandem suas pesquisas minerais pela dificuldade de obtenção de financiamento. Como as empresas brasileiras podem ampliar as oportunidades de financiamento e atração de novos investimentos?
Há um espaço considerável para a evolução das oportunidades de financiamento e atração de novos investimentos aqui no Brasil, visto que as características econômicas-operacionais da indústria mineral e sua elevada possibilidade de remuneração do capital investido, justificam modalidades de financiamento específicas.
Na expectativa de melhorar o ambiente de negócios e atração de capitais, as entidades empresariais do setor mineral, juntamente com o Governo, criaram a rede Invest Mining, que é uma rede colaborativa de financiamento para a mineração. Com a Invest Mining, tem se trabalhado para aproximar investidores e financistas dos bons projetos de mineração e suas empresas que não possuem o capital necessário para viabilizar os seus empreendimentos, visando construir uma carteira de projetos para oferecer a investidores e agentes financeiros.
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