Yara adota biometano para cortar emissões em 80%

Após deixar o segmento de mineração em 2021, quando vendeu o Complexo Mineroindustrial de Serra do Salitre para outra empresa, a Yara Fertilizantes focou as atenções no portfólio com opções para adubação de base, cobertura,foliar e fertirrigação (produção e mistura). Este ano, a companhia planejou estar ainda mais próxima das pautas verdes, trabalhando pela descarbonização da atividade industrial. E o pontapé inicial, no Brasil, foi apostar em biometano para reduzir em 80% as emissões na fabricação de fertilizantes.

“O primeiro passo da empresa voltado à descarbonização da atividade industrial foi a parceria firmada pela Yara com a Raízen para a aquisição de 20 mil m3 diários de biometano, que chegarão ao Complexo Industrial de Cubatão ainda este ano 2023, possibilitando a produção dos primeiros lotes de amônia de baixo carbono”, destacou Marcelo Pinto, vice-presidente de Operações e HESQ da Yara.

A companhia prevê que o uso de biometano reduzirá em, no mínimo, 80% das emissões de gases de efeito estufa decorrentes da produção com a utilização de gás natural. “Além disso, uma das vantagens é a de que, sendo o Brasil uma das potências agropecuárias mundiais, há a produção de uma enorme quantidade de resíduos orgânicos, que podem ser transformados em biogás e, posteriormente, em biometano”, complementou Marcelo Pinto. Nesta entrevista exclusiva para a Minérios e Minerales, o vice-presidente de Operações e HESQ da Yara comentou a respeito dos diversos projetos voltados ao desenvolvimento da produção doméstica de fertilizantes, seja na elaboração de novas formulações nutricionais ou na ampliação e modernização das unidades fabris, além das tecnologias de ponta de automação estão sendo utilizadas.

  1. Como se deu o encerramento das atividades na área da mineração?

R: Em agosto de 2021, a Yara vendeu seu projeto de mineração de fosfato em Serra do Salitre (MG). A ação teve como objetivo direcionar os esforços da empresa no Brasil para o desenvolvimento de soluções nutricionais, sobretudo em fertilizantes especiais (compostos pelos principais macro e micronutrientes em um mesmo produto), e nos projetos voltados à descarbonização da indústria, como o uso de biometano para a produção de amônia e fertilizante verde. O desinvestimento no projeto de Salitre, portanto, apoia a transformação da Yara, realocando capital e apetite de risco nos próximos anos para as áreas de foco estratégico.

  • Quais os projetos da Yara na área de fertilizantes?

R: A Yara possui diversos projetos voltados ao desenvolvimento da produção doméstica de fertilizantes, seja na elaboração de novas formulações nutricionais ou na ampliação e modernização das unidades fabris. Um dos principais projetos da empresa, nos últimos anos, foi na ampliação do Complexo de Rio Grande, o maior e mais moderno parque de produção, mistura e expedição de fertilizantes da América Latina. Os investimentos da Yara, de R$ 2 bilhões, nessa unidade, tiveram início em 2016. Desde 2021, o complexo está com todas as suas unidades em operação (unidades misturadoras, produção, granulação, acidulação) em ritmo ascendente, aumentando gradativamente seu volume de produção. A meta é operar com 100% de sua capacidade no próximo ano, atendendo à demanda por fertilizantes de diversos polos agrícolas, seja na região Sul como no Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul e Goiás) e no Nordeste (Maranhão).

 A facilidade logística, com a utilização dos modais rodoviário e hidroviário, permite que o Complexo atenda um leque maior de localidades. Outro investimento de destaque foi a construção da a primeira fábrica de fertilizantes foliares e micronutrientes da companhia no Brasil, em Sumaré (SP). Inaugurada em 2018 e focada na linha YaraVita, uma solução nutricional altamente tecnológica, que traz diversos diferenciais produtivos ao cliente por conta da presença de diversos nutrientes essenciais às plantas em um único produto, a unidade recebeu investimentos de R$ 100 milhões, sendo a única localizada fora da Europa voltada à produção de fertilizantes foliares. Os principais diferenciais da fábrica de YaraVita, em Sumaré (SP), são a automatização em quase 100% de todos os processos. A intervenção humana é mínima, ocorrendo somente no abastecimento de matéria-prima, troca de etiquetas e embalagens. Os demais procedimentos são totalmente automatizados, assim como já ocorre na Unidade Misturadora de Sumaré (SP), que foi inaugurada em novembro de 2014.

 Com a entrada em operação da fábrica de YaraVita, a Yara introduz ao mercado uma quantidade maior de fertilizantes especiais, cujas entregas crescem a taxas maiores do que os adubos tradicionais. Já nas linhas de produtos, a Yara está mapeando alguns lançamentos para este ano, especialmente em fertilizantes especiais, que agregam maior eficiência e qualidade aos cultivos. Podemos destacar aqui o reforço em todo o portfólio de produtos da marca, especialmente aos que compõem os programas nutricionais voltados às grandes culturas agrícolas do Brasil e também os da linha de fertirrigação.

  • Quais as tecnologias de ponta de automação estão sendo utilizadas?

R: O investimento de R$ 2 bilhões para dobrar a capacidade produtiva do Complexo de Rio Grande trouxe muito mais segurança, agilidade e produtividade para as unidades e garantiu a automação de muitos processos, um melhor atendimento para os clientes e o aprimoramento dos controles de qualidade. Mas, acima de tudo, garantiu o desenvolvimento das pessoas, que tiveram a oportunidade de viver programas de qualificação aperfeiçoando suas habilidades e fazendo com que o complexo se tornasse referência na indústria 4.0.

 A fábrica da Yara em Rio Grande conta com píer, que faz parte do complexo industrial, há uma agilidade no recebimento da matéria prima, que chega por navio e é descarregada em esteiras (são 14 quilômetros de esteiras em todo o complexo), que fazem os insumos irem para as linhas de produção. O investimento transformou a unidade de Rio Grande da Yara Brasil em uma indústria 4.0, onde cada processo acontece de forma muito mais rápida e com controles de segurança e qualidade que não só beneficiam as entregas aos clientes, mas também aos profissionais que estão lá diariamente.

O empreendimento é composto por um sistema de automação altamente complexo com aproximadamente 50 CLPs (controladores lógicos programáveis), distribuídos pelo site e dois data centers garantindo alta disponibilidade e integração de todos os processos fabris. Além disso, a Yara utiliza, no Complexo, máquinas 100% automatizadas nos processos de misturas e ensaque de fertilizantes, garantindo uma excelente qualidade dos produtos e reduzindo consideravelmente o trabalho mecânico antes desenvolvido de forma manual pelos colaboradores. Os carregamentos de Big Bag (sacos de uma tonelada) são feitos por pontes rolantes e a unidade de carregamento de small bag (sacos de 50 kg) é feita em pallets de forma completamente automatizada, sem a necessidade de intervenção humana (desde a montagem da carga até o escaneamento do caminhão para que o pallet seja posto na posição correta dentro da caçamba de cada caminhão).

A gestão de pátio do complexo industrial também foi automatizada, com o desenvolvimento de totens de autoatendimento para os motoristas que vão carregar os produtos para os clientes finais e muitos dispositivos automáticos para que a expedição aconteça de forma eficiente e muito mais rápida. Toda a tecnologia adotada pela Yara contribui para um melhor ambiente de trabalho nas áreas operacionais, reduzindo riscos de determinadas atividades e ajudando na boa ergonomia e melhor conforto dos colaboradores.

  • Em 2023 a companhia estará ainda mais próxima das pautas verdes, trabalhando pela descarbonização da atividade industrial. Quais os investimentos já feitos? E os previstos? R: No Brasil, o primeiro passo da empresa voltado à descarbonização da atividade industrial foi a parceria firmada pela Yara com a Raízen para a aquisição de 20 mil m3 diários de biometano, que chegarão ao Complexo Industrial de Cubatão em 2023, possibilitando a produção dos primeiros lotes de amônia de baixo carbono. O uso de biometano reduzirá em, no mínimo, 80% das emissões de gases de efeito estufa decorrentes da produção com a utilização de gás natural.

 Além disso, uma das vantagens é a de que, sendo o Brasil uma das potências agropecuárias mundiais, há a produção de uma enorme quantidade de resíduos orgânicos, que podem ser transformados em biogás e, posteriormente, em biometano. A intenção da Yara é que a planta, gradativamente, aumente a participação do uso de biometano até que, futuramente, todo o Complexo Industrial de Cubatão (SP) utilize o insumo em suas operações. O uso de biometano também possibilita a economia circular, visto que o fertilizante produzido a partir da amônia verde pode ser transportado de volta à usina, abastecendo a cadeia sucroalcooleira. E o cenário ideal é que os caminhões que transportarão este fertilizante possam ser movidos também com biocombustível, formando uma economia completa de baixo carbono.

Outra iniciativa da empresa é o fomento à utilização do fertilizante verde no Brasil. Em novembro, a empresa firmou a primeira parceria para fornecimento do insumo de baixo carbono no País. O memorando de intenções firmado com a Cooxupé estabelece que, nos próximos dezoito meses, as duas companhias estudarão a viabilidade do fornecimento do insumo de menor pegada de carbono, além de trabalharem na adoção de práticas agrícolas, métodos e ferramentas para diminuir a pegada climática envolvida na produção do café e aumentar a produtividade e qualidade da cultura.

O produto a ser entregue para a Cooxupé pode ser oriundo tanto do Complexo Industrial de Cubatão (SP) da Yara, que receberá biometano para a fabricação de amônia e fertilizantes verdes, quanto das plantas de produção da empresa espalhadas pelo mundo, como na Noruega, Holanda e Austrália. Por questões estratégicas, a Yara não divulga externamente seus números de produção ou mistura por país/unidade de negócio.