A Companhia Brasileira do Lítio (CBL), que viu seu faturamento quintuplicar nos últimos quatro anos, avalia investir US$ 70 milhões (aproximadamente R$ 360 milhões) para dobrar a produção de lítio, um dos minerais mais cobiçados da última década, usado na fabricação de baterias, com especial destaque para carros elétricos.

Fundada há quase 40 anos e instalada nos municípios de Araçuaí, Itinga e Divisa Alegre, situados no Vale do Jequitinhonha – região ao nordeste de Minas Gerais que compreende 14 cidades e hoje já chamado de Vale do Lítio –, a CBL viu, ao longo dos anos, multiplicar a demanda mundial pelo metal. Se no começo sua atividade se concentrava em fornecer para as indústrias de vidros, cerâmicas, polímeros, medicamentos e graxas lubrificantes, nos últimos anos o principal interesse veio do setor de baterias, uma vez que o lítio, devido ao seu alto potencial eletroquímico e baixa densidade, é capaz de armazenar grande quantidade de energia em volumes pequenos.

Por conta dessas características, o metal se destaca por ser um insumo multiuso, utilizado como matéria-prima na produção de baterias para dispositivos eletrônicos, veículos elétricos e em grandes acumuladores – sistemas usados para armazenar energia renovável. Nestes casos, a eletricidade gerada é transformada em energia química e armazenada para distribuição contínua e estável, evitando as oscilações ou intermitências próprias da geração fotovoltaica e eólica.

Por conta disso, o fornecimento sustentável de baterias de íon-lítio tornou-se um produto estratégico em todo o mundo. Particularmente nos últimos quatro anos, pressionado pela forte demanda do setor automotivo. Atualmente, dois terços da produção anual da CBL de 1,5 mil toneladas de carbonato de lítio (LCE) – uma das etapas anteriores à fabricação da bateria – tem como destino a produção de baterias para carros elétricos. Esse montante é muito pequeno se comparado à necessidade mundial de cerca de 800 mil toneladas do material atualmente e que deve atingir 2 milhões de toneladas até o final da década.

Na indústria do lítio, a CBL afirma ser a única empresa no Brasil e uma das poucas no mundo com o domínio da tecnologia integrada de minério-concentrado-composto químico. Opera de forma verticalizada, ou seja, da extração de recursos naturais até a sua transformação nos produtos de lítio de alta pureza. O processo de obtenção dos compostos químicos passa por várias etapas em diferentes áreas. Na pirometalurgia é onde o processo se inicia. O concentrado de espodumênio é calcinado e sulfatado com ácido sulfúrico, produzindo sulfato de lítio.

Já na fase da carbonatação, a solução de sulfato de lítio, após lixiviação e filtragem, reage com o carbonato de sódio formando o carbonato de lítio. No refino, é a área onde o carbonato de lítio passa por diversos processos como filtragem, purificação físico-química, centrifugação, bicarbonatação e troca iônica, atingindo os diferentes níveis de pureza exigidos em cada um dos produtos comercializados. De 2020 até o ano passado, a CBL mais que triplicou a produção de concentrado de lítio, saltando de 11 mil para 37,3 mil toneladas.

A empresa opera a mina subterrânea Cachoeira, a 220 metros de profundidade e galerias que atingem 14 km de extensão. Sua lavra do pegmatito litinífero é feita pelo método sublevel stoping, com padrões elevados segurança, o que inclui equipamentos comandados por controle remoto, perfuratrizes Jumbo e Fandrill, software de sequenciamento de lavra, estudos e acompanhamento geomecânico. Recentemente, a empresa implantou um sistema de monitoramento geomecânico dinâmico microssísmico, tornando-a uma das poucas minas brasileiras a utilizar essa tecnologia.

Aproveitando-se da verticalização e do boom da demanda global por lítio, a companhia viu seu faturamento multiplicar por cinco, saltando de R$ 120 milhões, em 2020, para R$ 668 milhões no ano passado. Já o lucro foi ainda mais expressivo, cresceu 11 vezes no período: de R$ 31 milhões, em 2020, para R$ 358 milhões no ano passado.

CBL conta com a melhora nos preços do mineral a partir do ano que vem– depois da explosão de preços em 2022, o valor de materiais de lítio registrou queda importante de 80% em 2023, fruto da ampliação da oferta e por conta de uma expansão menor do que o esperado dos veículos elétricos. O concentrado de lítio é negociado em cerca de US$ 1,1 mil a tonelada nos mercados asiáticos, especialmente China e Coreia do Sul, onde se localizam as principais refinadoras do metal. Já o preço do carbonato de lítio atualmente está na casa dos US$ 15 mil a tonelada.

A empresa acredita que a curva de preços deve subir e se prepara para dobrar a produção de concentrado para 90 mil toneladas por ano. Na planta de industrialização química, a ideia é triplicar a capacidade de produção de carbonato e hidróxido de lítio, atingindo 6 mil toneladas por ano de LCE. Ao mesmo tempo, a companhia deve investir para ampliar suas reservas de lítio, atualmente em 6 milhões de toneladas.

Com os projetos de expansão, o objetivo é transformar em compostos químicos de alta pureza metade da produção do concentrado, agregando valor ao lítio. Para as outras 45 mil toneladas, o plano é abastecer o mercado global, tendo a China como grande cliente e Europa e EUA também no radar. Estima-se que a demanda por baterias de lítio nos EUA deva crescer mais de seis vezes e movimentar cerca de  US$ 55 bilhões por ano até o final da década.

A empresa revela que é a única produtora fora da China que converte concentrado de lítio tipo espodumênio (extraído de rocha dura) em material de uso direto (carbonato e hidróxido) na fabricação de células para os packs de baterias. Na planta química, o concentrado de espodumênio é convertido em compostos químicos de lítio de alta pureza.

De capital 100% nacional, a CBL fornece quase metade da produção da unidade química ao mercado interno, para diversos tipos de indústrias. A empresa afirma ser a única fornecedora das 200 toneladas que o Brasil consome de lítio por ano para fabricação de medicamentos. Além disso, aproximadamente, 1,1 mil toneladas de LCE são exportadas para vários mercados. Desse volume, quase metade vai para a Índia para uso na fabricação de baterias.