Toda atividade ligada à Cadeia Produtiva do Agronegócio tem apresentado respostas extremamente positivas no que se refere ao saldo comercial do Agronegócio.
Isso se deve ao aumento da população mundial que gera demandas crescentes por alimento:

  • Segundo publicação da United Nations (“The World Population Prospects: The 2017 Revision” – United Nations), a população mundial, atualmente em cerca de 7,6 bilhões de pessoas, deverá chegar a 8,6 bilhões em 2030 e 9,8 bilhões em 2050.
  • A Organização Mundial de Saúde recomenda 3 refeições por dia/pessoa e admitindo-se que o consumo médio de alimento por pessoa/dia seja de 2 kg, isso permite projetar demandas (em dias atuais) de 15,2 bilhões ton de alimento/dia.

Essa é a principal razão para tornar o Bioma Cerrado protagonista na participação do PIB nacional com números impressionantes na casa de 22%. Por exemplo, o saldo comercial do agronegócio no período entre 1980 a 2000 ocupava patamar linear estável próximo a US$ 10 bilhões e no período entre 2000 a 2015 saltou para US$ 93 bilhões.

O Agronegócio é uma cadeia produtiva que se inicia no plantio e se encerra na industrialização de seus produtos.

Em 1970 a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) foi criada com o objetivo de se desenvolver pesquisas orientadas para o desenvolvimento de técnicas para melhorar o resultado de produtividade por unidade de área plantada.

É o início do Agronegócio no Brasil, nos estados do Sul (particularmente no Rio Grande do Sul).

A consequência disso foi desemprego de pequenos agricultores. Aqueles que tinham recursos migraram para o Paraguai comprando terras baratas com incentivos governo paraguaio (brasiguaios) e aqueles sem recursos dirigiram-se para o cerrado do Centro-Oeste e Amazônia (ARCO DO DESMATAMENTO & Novo Código Florestal).

De carona entra em cena a chamada “REVOLUÇÃO VERDE” que trouxe o desenvolvimento de sementes modificadas e utilização de FERTILIZANTES QUÍMICOS.

Os solos do Bioma Cerrado são caracteristicamente ácidos (pH) sendo que a correção dessa acidez pela CALAGEM é imprescindível para melhorar a produtividade das culturas. Solos excessivamente ácidos provocam uma diminuição na disponibilidade de nutrientes importantes para plantas como Fósforo, Cálcio, Magnésio e Potássio. O uso do Calcário Agrícola (CALAGEM) melhora as propriedades físicas do solo (aeração, circulação de água) promovendo uma melhorara no desenvolvimento de raízes das plantas melhorando resultados de produtividade.

Um dos maiores desafios em procedimentos de CALAGEM é neutralizar os efeitos do Alumínio (Al+3) no solo para permitir melhor eficiência dos fertilizantes (NPK, por exemplo).

Dessa forma, a realização de análises de solos é fundamental porque, além de definir e caracterizar deficiências de nutrientes e acidez (pH), fornece parâmetros que permitem orientar o tipo de calcário adequado para solos com características distintas. Nesse sentido, a relação Ca/Mg (3:1) é parâmetro que define o tipo de calcário a ser utilizado (Dolomítico ou Calcítico).

Segundo a ABRACAL (Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola), num cenário de baixo consumo, a quantidade de Calcário necessário para corrigir acidez dos principais solos brasileiros ocupados pelo agronegócio é de 1 a 1,5 toneladas por hectare.

Esses números já permitem dar uma ideia das possibilidades de oportunidades que podem atender demandas crescentes do agronegócio (com projeções de expansão para os próximos 30 anos em que chineses e indianos serão protagonistas nessa aventura de busca por alimentos).

A Figura 1 é uma síntese da compilação, integração e modelagem de dados (vetorizados e raster) disponibilizados no site do MMA (Ministério do Meio Ambiente) destacando-se a distribuição em área do Bioma Cerrado no Território brasileiro (total de 163,1 Milhões de Há) com destaque para as áreas definidas como Fronteiras Agrícolas (Centro Oeste/ 99,6 Milhões Há e MATOPIBA/ 73,5 Milhões de Há).

A área de cerrado desmatada nessas duas Fronteiras Agrícolas é estimada (a partir deste processamento) em 64 Milhões de Há (sendo 50 Milhões no Centro Oeste e 14 Milhões no MATOPIBA).

Se comparamos as projeções de produção de calcário agrícola informada pela ABRACAL com a área de cerrado desmatada (áreas de pastagens e cultivo mecanizado de grãos) percebe-se acentuado déficit entre demandas potencializadas e produção.

Isso posto, duas perguntas são relevantes: 1) No contexto das Fronteiras Agrícolas como se distribuem as áreas em produção (minas de calcário) e 2) Onde encontramos terrenos geológicos prospectivos para justificar Programas de Exploração com foco nos “agrominerais”?

As respostas podem ser extraídas na observação da Figura 2, onde estão destacadas a localização das minas de calcário em operação e a distribuição das ocorrências de calcário cadastradas por projetos da CPRM onde, preliminarmente, é possível identificar setores com maior potencial geológico prospectivo dentro de uma envoltória de 200 km (“buffer”) a partir do limite da área de cerrado no contexto das Fronteiras Agrícolas (Centro-Oeste & MATOPIBA).

Finalizando, deve ser ressaltado que geólogos de exploração rastreando calcários para corretivo agrícola devem ficar atentos para possibilidades de mineralizações de sulfeto de Zinco/Prata/Chumbo (Vazante/MG, Boquira/BA) e/ou Fosfato Sedimentar/Fosforita (Lagamar-Rocinha/MG e Irecê/BA).

Vitor Mirim, Geólogo