Poucos profissionais foram unanimidade na mineração brasileira como o engenheiro e professor Paulo Abib Andery – e o processo de flotação que ele aperfeiçoou possibilitando o aproveitamento do minério de fosfato nacional, pobre e repleto de contaminantes. Esse minério era extraído em Jacupiranga, hoje Cajati, no estado de São Paulo, na época operada pela Serrana, e a mina continua produzindo nos dias atuais pela Mosaic. Descendente de libaneses, Paulo Abib nasceu em Pouso Alegre, MG, em 26 de Setembro de 1922 – estaria para completar 101 anos agora.

Faleceu em São Paulo em 24 de Outubro de 1976. Formou-se engenheiro de minas e metalurgista pela USP. Desenvolveu e patenteou o processo de flotação de minério com baixo teor de fosfato e carbonatito como contaminante, usando amido modificado como depressor do carbonatito e sais de ácidos graxos como coletor de apatita. Esse método aperfeiçoado por ele nos anos 1960 foi adaptado para os minerais de fosfato de Goiás e Minas Gerais, viabilizando sua produção industrial até hoje. Aprimorou processo para concentração de minério oxidado de chumbo.

 Concebeu plantas móveis sobre skids que seguiam o deslocamento de frentes de exploração empregando desmonte hidráulico para aluviões. Recebeu diploma como homenagem do Congresso Mundial de Tratamento Mineral em 1974, em Cagliari, Itália, e o jornalista Francisco Alves e o Prof. Arthur Pinto Chaves dedicaram um livro sobre sua trajetória. O livro conta que Paulo Abib, filho de imigrantes, foi a primeira pessoa da família a se graduar na universidade, ao se formar em Minas e Metalurgia na Escola Politécnica, São Paulo. Em janeiro de 1975 fundou a empresa de desenvolvimento de processos que leva seu nome, que representava o ideal de se criar a engenharia mineral brasileira, ideal esse compartilhado pelo Prof. Roberto Vilas Boas do CETEM, Prof. Arthur Pinto Chaves da USP, Paulo Afonso e Eduardo Dias– que, mais tarde, formaram a Minerconsult, e outros.

No livro “A Mineração e a Flotação no Brasil” de Axel de Ferran, o autor conta que Paulo Abib , em 1960, escreveu sua tese de livre docência sobre flotação de chumbo do depósito de Boquira, BA, que não teve êxito. O Prof. Geraldo Mercher o convidou para trabalhar na Serrana e lá ele fez história: “recomeçou o processo todo da estaca zero, sem pular etapas – e, desta vez, deu tudo certo”. Depois de concentrar o fosfato de Cajati em bancada de laboratório, montou uma usina em miniatura utilizando chapas reaproveitadas de latas de conserva e solda de estanho. Na sequência, construiu uma usina para 200 t/dia com partes moduladas e circuito completo. Demonstrou nesta usina que moer carbonatito e flotar apatita era possível em escala industrial. Acreditava-se na época então que apatita só podia ser flotada se fosse com ganga silicosa.

Foi projetada então uma planta de 4 mil t/dia na Serrana, que operou com sucesso. O Prof. Paulo Abib montou uma empresa de Engenharia Mineral que difundiu a flotação na mineração do País. Após o falecimento dele, em 1976, assumiu a direção técnica da consultoria o eng. José Luiz Beraldo. Congratulamo-nos com os autores dos projetos eleitos pelo Júri Independente do 25º Prêmio de Excelência, que mantém vivo o espírito de inovação do Prof. Paulo Abib, para fortalecer a engenharia mineral e tecnologia nacional!