Grafita no Brasil: oportunidades para programas de exploração mineral

O mineral grafita (ou grafite), pode ser incluído numa lista apelidada de “substâncias portadoras de futuro” onde se inclui os metais lítio, cobalto, metais do grupo da platina, molibdênio, nióbio, silício (grau solar, pureza 99.99%), tálio, tântalo, titânio e vanádio.
Grafita é uma variedade alotrópica natural do carbono; a outra é o diamante. São substâncias de mesma composição química (carbono) mas organizadas em sistemas cristalinos distintos que se reflete, entre outras coisas, nas suas propriedades físicas. É mineral não metálico muito versátil cujas características são: condutividade elétrica e térmica elevadas (superiores), inércia química (alta resistência à corrosão), excelente lubrificante natural e ponto de fusão elevado (3.650oC), entre outras.

Há dois tipos de ocorrências comuns: grafita cristalina que ocorrem em terrenos geológicos de alto grau metamórfico e grafita micro cristalina encontrada em terrenos geológicos de baixo grau metamórfico.
Nesse contexto existem três formas naturais de grafita:

  • Amorfa (conteúdo de carbono entre 65 e 85%) – pureza mais baixa, preço baixo e tendência de baixa demanda no mercado);
  • flake (conteúdo de carbono > 85%) – alta demanda, produto mais procurado pelo mercado;
  • lump ou veio (conteúdo de Carbono > 95%) – mercado específico, baixa demanda e crescimento discreto.

Segundo dados do USGS (https://minerals.usgs.gov/minerals/pubs/mcs/2018/mcs2018.pdf), em 2017 o Brasil ocupou a terceira posição no ranking dos maiores produtores globais de grafita (95.000 TM –Toneladas Métricas) atrás da China (780.000 TM) e Índia (150.000 TM). Nessa mesma publicação, o preço de importação pago pelos americanos (dólar médio por tonelada métrica no porto de origem) foi de US$ 1400/TM (flake), US$1800/TM (lump) e US$ 392/TM (amorfa).

O interesse do mercado da indústria mineral por grafita vem crescendo ultimamente em boa parte pela expectativa de produção de baterias visando a armazenar energia eólica, solar e, especialmente, para atender produção de veículos elétricos e híbridos e aparelhos eletrônicos de uso pessoal (computadores, celulares etc.).

Um aspecto que pode impactar o mercado de grafita é o fato de que o governo chinês ter políticas restritivas para controle de exportações e que deve se tornar mais severa pela “guerra comercial” (medidas protecionistas) deflagrada recentemente pelo EUA contra China.

Segundo a publicação do USGS (acima citada), não há minas de grafita em produção nos Estados Unidos e, no período entre 2013 e 2016, visando a atender demandas de suas indústrias, importaram grafita da China (37%), México (31%), Canadá (17%), Brasil (8%) e outros países (9%).

Os mercados americanos e europeus classificam o mineral grafita como “material estratégico” tanto para a indústria como para propósitos de segurança nacional.

Esse cenário favorece (cria atratividade) para desenvolvimento de programas de exploração mineral com expectativas de gerar novos depósitos, para compensar eventuais restrições do mercado chinês às exportações para atender demandas em ascensão de baterias recarregáveis para veículos elétricos.

Esse contexto estimula uma análise preliminar para avaliar terrenos geológicos com vocação para hospedar mineralizações de grafita no território brasileiro. A base de dados disponibilizadas pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) permite rastrear registros de cadastramento de ocorrências minerais e dados de geologia básica, a partir da integração e processamento desses dados vetorizados em qualquer plataforma GIS.

O resultado desse processamento a partir de dados de todas as “Cartas Geológicas do Brasil ao Milionésimo” revela 266 registros de ocorrências de grafita no Brasil (classificadas, segundo critérios da CPRM em: 31 depósitos minerais, 230 ocorrências e 5 indícios de mineralização – ver círculos amarelos no mapa da figura publicada neste texto).

Para rastrear as minas de grafita em produção o melhor caminho é acessar os dados de controle de direitos minerários disponibilizados pelo DNPM (Agencia Nacional de Mineração) para todos os Estados e Distrito Federal. O resultado desse processamento (visita Sigmine em 10 setembro 2018) identifica 433 processos ativos no DNPM com substância declarada com grafita, dos quais 29 tramitam na fase de Concessão de Lavra.

O fato de uma mesma empresa ter processos contíguos na fase de concessão de lavra não permite afirmar que existem 29 minas de grafita em operação; então, o cruzamento dos dados vetoriais referentes aos polígonos que identificam as concessões de lavra com imagem Google (por exemplo) possibilita individualizar cavas/pits, usinas de processamento e barragem de rejeitos.

Todas essas concessões de lavra para grafita estão distribuídas para seis empresas das quais três delas desenvolvem operação de lavra em seis minas (ver figura) posicionadas na divisa dos estados de MG e BA (Pedra Azul/MG – Salto da Divisa/BA) e as outras 3 minas localizadas a sudoeste de Belo Horizonte (Itapecerica e Itaúna/MG).

O posicionamento das minas ativas e a distribuição das outras áreas que tramitam no DNPM em fases de Concessões de Lavra, Requerimentos de Lavra e Relatório Final de Pesquisa Positivos mostram relação com terrenos geológicos caracterizados por alto grau metamórfico (fácies Granulito e Anfibolito).

A partir dessa informação, é possível realizar filtros na base de dados vetorizados, via tabela de atributos dos shapefiles, para identificar unidades geológicas de alto grau metamórfico. O resultado desse processamento permite identificar belts granuliticos (e anfibolíticos) que, conforme mostrado acima, são alvos potenciais para prospectar mineralizações de grafita flake (ou lump) em todo território brasileiro.

Nota: A figura mostra apenas 2 símbolos de minas (triângulos vermelhos) na região de Itaúna pelo fato de as duas minas estão posicionadas muito próximas na região de Itapecerica e a escala do mapa não permite distanciar um dos símbolos.

Cabe ressaltar que o posicionamento de parte significativa das ocorrências minerais cadastradas pelo projeto da CPRM coincide com os belts de alto grau metamórfico (granulítico & anfibolítico) indicados pelo processamento (filtros) realizados.

Ocorrências de grafita posicionadas fora das faixas granulíticas, em boa parte, estão associadas a faixas de rochas caracterizadas por baixo grau metamórfico (fácies xisto verde).

Não temos dúvida de que, em razão da importância estratégica da grafita para a indústria em geral, há ambiente geológico atrativo para desenvolvimento de programas de exploração em extensas áreas com potencial prospectivo.

Justificados os orçamentos (com base em expectativas de mercado e interesse de empresas) o próximo passo é pegar o martelo, a botina e ir para campo. A chance de se alcançar resultados é real (dentro dos riscos inerentes a esse investimento).

*Vitor Mirim é geólogo de exploração da VRM Geologia e Mineração

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